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Ana Gomes diz que Ventura é "boneco" de poderes ocultos, líder do Chega responde com Pedroso e Sócrates

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Foto Lusa

A candidata presidencial Ana Gomes acusou hoje o seu adversário André Ventura de ser "boneco" instrumento de poderes ocultos, enquanto o líder do Chega relacionou a diplomata com os ex-militantes socialistas José Sócrates e Paulo Pedroso.

Estas foram algumas das acusações trocadas num debate sempre travado de forma tensa entre os candidatos presidenciais Ana Gomes, apoiada por PAN e Livre, e André Ventura, presidente do Chega, na TVI.

Logo na abertura do debate, a ex-eurodeputada socialista procurou associar André Ventura a projetos têm como objetivo destruir a democracia e instaurar a ditadura, afirmando em contraponto que, se for eleita Presidente da República, será uma firme defensora da atual Constituição da República.

Além de tentar colar o deputado único do Chega ao presidente cessante dos Estados Unidos, Donald Trump, e à líder da Frente Nacional francesa, Marine Le Pen, Ana Gomes também atacou o seu adversário no plano ético-moral.

A antiga dirigente socialista, num dos momentos mais acessos do debate, trouxe para cima da mesa a passagem profissional de André Ventura pela Autoridade Tributária, de onde transitou, segundo a antiga dirigente socialista, para o setor privado, ajudando então "à saída de capitais para offshores".

"Este senhor [André Ventura] que vem aqui dizer que está contra a corrupção, de facto, foi funcionário da Autoridade Tributária e depois trabalhou para empresas utilizando os conhecimentos da Autoridade Tributária para ajudar ricos e empresas a porem dinheiro em offshores. É exatamente contra isso que eu me candidato, é exatamente contra isso que eu trabalharei sendo Presidente da República", disse.

Mas, na parte final do debate, Ana Gomes foi ainda mais longe, considerando que aquele seu adversário na corrida a Belém é "boneco" de interesses terceiros.

"É um instrumento de poderes ocultos perigosos que estão na sombra, poderes ligados ao imobiliário de luxo, poderes ligados ao Banco Espírito Santo (BES) e Banif, poderes ligados a partidos de extrema-direita, como o MDLP ou o PNR. Este senhor é o boneco dessas forças ocultas", afirmou.

Por sua vez, o presidente do Chega recordou a passagem da ex-eurodeputada do PS pelo MRPP, dizendo que esta força política proclamou no período revolucionário do país (1974/1975) a morte aos traidores, "destruiu famílias e empresas".

Ainda para atacar a sua adversária, André Ventura mostrou no debate uma fotografia de Ana Gomes com o antigo primeiro-ministro José Sócrates em 2009, fazendo depois o seguinte comentário: "Não fui eu que andei aos abraços com José Sócrates. Estava aos beijinhos com ele há uns anos", comentou.

Mas, nesta parte de ataques mais pessoais, o deputado do Chega procurou, sobretudo, relacionar a diplomata com o diretor de campanha da sua candidatura presidencial, o antigo porta-voz do PS Paulo Pedroso.

Logo que surgiu a primeira referência a Paulo Pedroso, o moderador do debate, o jornalista Pedro Mourinho, interrompeu o deputado do Chega para frisar que o antigo ministro socialista não chegou a ser indiciado no âmbito do processo Casa Pia e até foi indemnizado pelo Estado Português.

André Ventura, porém, seguiu a via de acusar Paulo Pedroso e também o atual presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, de terem procurado condicionar a justiça no processo Casa Pia.

"Não tem a ver com pedofilia. Ele não foi a julgamento - tenho a minha opinião, não a vou dizer. Agora, há uma coisa que é certa: O Supremo Tribunal de Justiça foi muito claro: Houve tentativa de condicionar pelo PS e por Paulo Pedroso - e é o diretor de campanha da doutora Ana Gomes", apontou.

Ana Gomes reagiu com palavras duras: "Este senhor [André Ventura] tem truques para tentar arrastar para a lama quem vem aqui debater com ele, para ficar parecida com ele".

"Não será o meu caso. Eu sou mãe, sou avó de sete netos, e repudio totalmente qualquer tentativa de insinuação deste senhor de me associar a mim ou as pessoas que trabalham comigo e em quem eu confio, como é o caso do doutor Paulo Pedroso, com quaisquer práticas criminosas", respondeu.

No plano estritamente político, o deputado do Chega e a antiga dirigente do PS também estiveram sempre em confronto, com André Ventura a colocar em causa a democraticidade de Ana Gomes, designadamente quando defende a reapreciação pelo Tribunal Constitucional da decisão que permitiu a legalização do Chega.

Ventura insistiu igualmente em defender a prisão perpetua em Portugal e repetiu que, se for eleito, não será o Presidente de todos os portugueses.

"Não vou ser o Presidente do José Sócrates, não vou ser o Presidente dos pedófilos, não vou ser o Presidente dos traficantes de droga. O que é que lhes vai fazer? Vão para a prisão, que era onde deviam estar há algum tempo", disse.

Ana Gomes contrapôs que a instauração da prisão perpetua em Portugal seria "um retrocesso civilizacional", até porque mais tarde, "se calhar, estar-se-ia a propor que se corte as mãos aos ladrões" - um ponto em que Ventura fez o seguinte comentário: "A alguns não fazia mal".

A ex-eurodeputada do PS sustentou depois que o Chega - força política que associou a um discurso de "ódio e de racismo" - pretende "abolir" o Serviço Nacional de Saúde, a escola pública, baixar os impostos dos contribuintes com mais elevados rendimentos e acabar com os apoios sociais aos mais pobres, dizendo aqui que o seu adversário já propôs o confinamento de cidadão de etnia cigana.

N parte final do debate, houve até alguns risos, quando a diplomata repetiu a ideia do Presidente da República e recandidato presidenciais Marcelo Rebelo de Sousa, segundo a qual André Ventura tem um comportamento em audiências no Palácio de Belém e tem outro nos debates televisivos.

"Em Belém é um coelhinho, mas aqui nos debates apresenta-se com um registo de gatarrão", declarou a antiga dirigente do PD, o que motivou a seguinte resposta por parte de André Ventura: "Fico contente por Ana Gomes dizer que sou um gato. Agradeço".

"Mas ficou mal a Marcelo Rebelo de Sousa revelar conversas privadas no Palácio de Belém. O Presidente da República saiu mal do debate comigo, ficou sem argumentou e saiu chateado", acrescentou.

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