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Um "período perigoso" de Trump até posse de Joe Biden

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Um analista e professor de ciência político considerou que, a 12 dias da tomada de posse de Joe Biden, a manutenção do poder pelo Presidente cessante, Donald Trump, significa que se está um "período perigoso".

"Este é um Presidente que ainda tem controlo sobre os códigos nucleares e sobre o poder dos Estados Unidos até ao dia 20", lembrou Richard Hasen, em declarações à Lusa.

"Estamos num período perigoso com um Presidente que não tem qualquer respeito pela lei", afirmou o cientista político, que leciona na Universidade da Califórnia Irvine.

"Estou preocupado com todos os seus poderes presidenciais. Ele fez algumas coisas bastante perigosas", frisou Hasen, também um reconhecido especialista em lei eleitoral.

Na quarta-feira, apoiantes de Donald Trump invadiram o Capitólio, em Washington, numa ação que resultou em cinco mortos e mais de 50 detidos.

"As forças policiais vão levar mais a sério o potencial das ameaças violentas que esta fação dentro do Partido Republicano representa para os Estados Unidos", afirmou.

Hasen disse que, além do Capitólio, houve movimentos no Kansas e em outros locais de apoiantes de Trump, que rodearam vários edifícios governamentais.

"Penso que iremos ver uma presença policial muito grande até ao final da presidência de Trump em Washington D.C [District of Columbia]. E as pessoas estarão nervosas até este período terminar", acrescentou.

O ataque ao Capitólio, no dia em que os membros do Congresso estavam reunidos para formalizar a vitória de Joe Biden, não foi uma surpresa para o académico, que já temia este desfecho.

"Eu esperava que houvesse violência, porque Trump tem estado a incentivar protestos há algum tempo e a instigar os manifestantes a descerem sobre DC e a envolverem-se em ações loucas", afirmou. "O surpreendente, para mim, foi o espaço do Capitólio ter sido invadido. Foi um falhanço de segurança. Não devia ser possível a uma multidão de poucos milhares assumir o controlo dos gabinetes do governo", salientou.

Os líderes democratas do Congresso, Nancy Pelosi e Chuck Schumer, pediram na quinta-feira ao vice-Presidente norte-americano, Mike Pence, e ao Governo para invocarem a 25.ª Emenda para remover Trump, classificando-o como incapaz de prosseguir os deveres presidenciais.

Se tal não acontecer, disseram, a Câmara dos Representantes estará preparada para introduzir artigos de destituição, devido ao comportamento do Presidente cessante, acusado de instigar à violência.

"É improvável que qualquer uma destas coisas aconteça dado o curto prazo de tempo que temos", afirmou o analista. "No entanto, se Trump continuar a escalar a situação, haverá pressão sobre o Congresso e sobre o vice-Presidente para agirem".

Na quinta-feira, com vários membros do governo a apresentarem demissão e republicanos proeminentes a distanciarem-se das ações de Trump, o Presidente cessante disse, numa mensagem em vídeo, que o ataque dos seus apoiantes ao Capitólio era "hediondo".

Trump também concedeu que o seu mandato vai terminar em 20 de janeiro, algo que nunca tinha feito desde a derrota nas eleições de 03 de novembro.

Hasen sublinhou que a certificação de Joe Biden como Presidente eleito pelo Congresso, que aconteceu noite dentro, após a invasão do Capitólio, já não será revertida.

"É inconcebível para mim que a decisão de um tribunal ou outra manobra legal possam fazer diferença", disse. "Há sempre a possibilidade de ações fora da legalidade, como a insurreição a que assistimos, mas parece que a sociedade civil americana está a aguentar-se".

Os tumultos que levaram à suspensão temporária do processo de certificação da vitória de Biden não impediram a conclusão do procedimento formal.

"Parece, pelo menos para já, que a grande experiência democrática da América vai sobreviver a Trump", sublinhou Hasen.

No entanto, o académico considerou que há sinais de alarme e o ataque ao Capitólio foi reflexo de uma realidade em que "milhões de pessoas acreditam em desinformação sobre fraude eleitoral e uma parte delas dispôs-se a agir".

Hasen disse ainda acreditar que Trump vai continuar a ter uma base de apoio muito forte entre as pessoas que o veem como um herói. "A questão é se ele vai manter a lealdade da elite republicana ou se haverá um esforço de distanciamento do Partido Republicano das suas ações potencialmente perigosas", indicou.

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