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A grandeza da nossa pequenez

Estávamos em 1419 quando três navegadores; João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo chegaram à Ilha da Madeira com a restante tripulação vindos de um porto seguro, ao qual deram o nome de Porto Santo, onde tinham chegado há um ano atrás fugidos de uma tempestade em alto mar. Este achamento levou a que o rei D. João I ordenasse em 1425 o início de um ciclo de Povoamento nas duas ilhas. Mais tarde, já em 1440, os três capitães-donatários ficaram responsáveis por cada uma das três Capitanias. A partir daí o Arquipélago da Região Autónoma da Madeira – como é conhecida hoje – passa por sucessivos ciclos de desenvolvimento e expansão, desde logo com a introdução dos Cereais na agricultura. Seguiu-se então a cultura do Açúcar, depois o Vinho e só então começa o Turismo, com especial destaque para os Ingleses e Alemãs. E foi até os dias de hoje que esta indústria mais se evidenciou, criando riqueza e fazendo prosperar de uma forma directa ou indirectamente a grande maioria da nossa população. Foram anos áureos os que se seguiram, primeiro com turistas de uma classe endinheirada e mais tarde à escala global, abrangendo outras classes sociais mais baixas, tornando esta indústria num fenómeno crescente e de valor incomparável para o melhor destino insular do Mundo. E é nesta região autónoma que nasce o maior grupo hoteleiro português, expandindo-se depois pela Europa e os quatro cantos do globo. Mas, de repente e sem que se pudesse prever, eis que em finais de 2019 acontece o (quase) inexplicável. O planeta terra abranda drasticamente na sua eufórica e desmensurada produção industrial para alimentar novos e crescentes hábitos de consumo da sociedade. Enquanto isso, apenas a natureza com o seu poder de rejuvenescimento absolutamente incrível, consegue aproveitar esta pandemia para se restabelecer e renovar a enorme adulteração climática a que estava progressivamente condenada. Era o fim de um excelente ciclo de actividade turístico-hoteleira e consequentemente de muitas outras indústrias, pondo em causa milhões de postos de trabalho em todo o mundo. Como resultado desta inacreditável realidade, só em Portugal foram para casa milhares de trabalhadores, vendo comprometida a sua vida e a dos seus familiares. Com o passar do tempo, novos constrangimentos bateram-nos à porta enquanto alguma comunicação social nos fazia crer que “vai ficar tudo bem”. Agora, são tempos muito difíceis os que vivemos por cá e por esse mundo fora, em consequência da pobreza e da miséria que tem assolado uma parte significativa da humanidade. Como se isso não fosse suficientemente dramático, também a imprudência humana e os crimes ambientais por estes provocados, se acrescentam às assustadoras intempéries da natureza. Sim, precisamos urgentemente de uma dose dupla da vacina anunciada, mas também de esperança e determinação porque, o futuro é breve mas, incerto e timidamente promissor.

Vicente Sousa

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