Deputado expulso de partido opositor investigará crimes da oposição na Venezuela
A nova Assembleia Nacional da Venezuela (ANV) nomeou hoje três comissões especiais para impulsionar o diálogo nacional, investigar os crimes dos deputados opositores liderados por Juan Guaidó e para defender o território Esequibo, alvo de disputa com a Guiana.
As nomeações tiveram lugar durante a primeira sessão ordinária daquele organismo, composto pelos deputados que foram eleitos nas legislativas realizadas a 06 de dezembro, num escrutínio não reconhecido pela oposição.
A comissão que impulsionará o diálogo nacional será presidida pelo presidente do parlamento e ex-ministro de Comunicação e Informação da Venezuela, Jorge Rodríguez.
Outra decisão da ANV foi nomear o deputado José Brito, que em dezembro de 2019 foi expulso do partido opositor Primeiro Justiça por suspeitas de "encobrir ou proteger atos de corrupção cometidos pelo regime" venezuelano, para presidir à Comissão Especial para Investigar Ações perpetradas contra a República pela direção e membros do anterior parlamento, presidido pela oposição, durante o período 2016-2021.
Segundo a imprensa venezuelana, José Brito, é suspeito de ter "gerido favores" para o empresário colombiano Alex Saab, atualmente detido em Cabo Verde e cuja extradição é requerida pelos Estados Unidos.
A terceira comissão será presidida pelo deputado opositor Timoteo Zambrano, que em 2018 se separou do partido Um Novo Tempo para fundar a formação partidária Cambiemos. Trata-se da Comissão de Defesa e Segurança, que terá como propósito defender a soberania venezuelana e atender a reclamação entre a Venezuela e a Guiana pelo território Esequibo.
Durante a sessão o presidente da Assembleia Nacional Venezuelana, Jorge Rodríguez, acusou os seus antecessores de terem usado o parlamento para causarem problemas ao país, "em aliança com setores tenebrosos e hostis do estrangeiro", segundo afirmou.
"Deste local saíram todos os excessos. Poucos venezuelanos poderiam prever, em 05 de janeiro de 2016 (início do anterior mandato) que se iriam atrever a tanto. Não se detiveram em nenhum tipo de limites, não tiveram pudor para negar a sua condição de venezuelanos", disse.
Por outro lado, a vice-presidente do parlamento, Iris Varela, pediu celeridade nas investigações, para que o mais tardar dentro de um mês se conheçam os resultados do trabalho da Comissão Especial para Investigar Ações perpetradas contra a República.
As investigações têm como propósito "que a justiça chegue de maneira expedita e oportuna" e incluirá alegados golpes de Estado contra o Presidente Nicolás Maduro, conspirações desde o território colombiano para invadir a Venezuela e "o roubo" de ativos da República no estrangeiro.
Segundo Jorge Rodríguez, a nova comissão não deve "trabalhar em segredo, promover e aceitar a impunidade, a amnésia e o esquecimento" e ouvir "os familiares dos filhos que requeriam intervenções cirúrgicas complexas, cujos fundos foram desviados para a corrupção".
Foram ainda criadas as comissões permanentes de Política Exterior, de Política Interior, Controlo e a de Meios de Comunicação (imprensa).
Terça-feira, os membros da nova Assembleia Nacional (ANV) foram empossados numa sessão solene, tendo sido confirmados 256 deputados dos partidos pró-regime, 20 da oposição (desvinculada de Juan Guaidó, que se autoproclamou Presidente interino da Venezuela) e um do Partido Comunista.
Estes deputados foram eleitos nas legislativas realizadas no passado dia 06 de dezembro, num escrutínio não reconhecido pela oposição que realizou uma sessão parlamentar em que o líder opositor Juan Guaidó, jurou que o parlamento liderado pela oposição continuaria em funções.
Desde janeiro de 2020, a Venezuela tem dois parlamentos parcialmente reconhecidos, um de maioria opositora, liderado por Guaidó, e um pró-regime do Presidente Nicolas Maduro, presidido por Jorge Rodríguez.
A crise política, económica e social na Venezuela agravou-se desde janeiro de 2019, quando Guaidó jurou assumir as funções de Presidente interino do país até afastar Nicolás Maduro do poder, convocar um governo de transição e eleições livres e democráticas.