Presidenciais 2021. Votar em quem?
Acredito que muitos portugueses estejam com o mesmo problema que eu. O painel de candidatos que compõem o boletim de voto para as eleições presidenciais é no fundo o espelho da política nacional. Um imenso vazio e um profundo problema. Este mandato de Marcelo Rebelo de Sousa assumiu-se como um desvalorizar por completo daquilo que deve ser a posição de um Presidente e um esvaziar de competências pela necessidade sôfrega de agradar a todos. Percebemos hoje, que ser o mais alto magistrado da Nação, mais não é do que um colinho paternalista que acolhe uma sociedade em crise de valores e de identidade e um boneco sem capacidade de tomar decisões e de assumir posições políticas que por um lado promove, acolhe e acata todas as decisões do Governo e por outro tem como utilidade primeira produzir afetos e tirar fotografias com os seus concidadãos para que estes se sintam importantes ao posarem ao seu lado.
É por isso uma eleição que se perfila como um peso e uma chatice para a grande maioria, pela necessidade de assumirmos uma posição em tempos exigentes e que merecem o nosso empenhamento, mas também porque olhamos e vemos os debates e as figuras e não nos identificamos com nada do que para ali vai. Ainda para mais com a triste coincidência de calhar em plena pandemia, numa altura em que os casos crescem como nunca e que muito provavelmente terá o seu pico pela altura em que nos teremos que deslocar às mesas de voto. Não me parece que Marcelo Rebelo de Sousa tenha sido a voz necessária, apenas a figura de corpo presente. Sempre complacente com o poder instituído, sem conseguir ser o contra peso que se lhe exigia mas acima de tudo sem a coragem para se chegar à frente e dar um murro na mesa nos muitos casos polémicos que nos inundaram estes cinco anos. Das mais recentes trapalhadas na indicação do Ministério da Justiça para o lugar de procurador europeu que nos mostram uma aparente fraude na pessoa indicada para ( vejam bem! ) o combate à fraude ou na morte do cidadão ucraniano, passando por Tancos e muitos outros. Se hoje em dia tudo se pode fazer e ninguém tira consequências disso muito o devemos a ele.
Mas os outros candidatos não se revelam melhores. À esquerda João Ferreira e Marisa Matias fazem depender a sua vitória do resultado de André Ventura sem perceber o que deve caracterizar a figura de Presidente da Republica. A ditadura de esquerda habitual dos que tanto defenderam a liberdade e são os primeiros a querer calar tudo o que não segue pelo mesmo diapasão. Ana Gomes a querer marcar uma posição dentro do próprio partido, revoltada por não ter sido apoiada pelo mesmo e seguindo uma luta que a tem levado para os comentários dos telejornais em nome da luta contra a corrupção. Caiu na sua própria teia ao decidir comprar uma vacina para a gripe em França através da cunha de um amigo. À direita um Tiago Mayan Rodrigues que defende uma postura excessivamente liberal para os tempos em que vivemos, com uma imagem que não cativa e um ar austero do género rezingão que não transmite empatia absolutamente nenhuma. André Ventura a mostrar o que se sabe. Ar fanfarrão e discurso truculento. Sente-se em casa nos debates televisivos o que o faz cair por vezes na falta de respeito pelos outros. Já farta falar sempre nos ciganos como se o País estivesse mal devido a eles. Assumir que quer ser o presidente só de alguns portugueses diz bem ao que vem.
Por fim o Vitorino. O nosso Tino quase ao estilo do brasileiro Tiririca “vote em mim que pior não fica”. O homem das metáforas que se agarrou às pedras ao estilo das grandes parábolas evangélicas. Pelo meio um canal de televisão que decide fazer uma “Grande Reportagem” ridícula, completamente tendenciosa e desrespeitosa com uma pessoa que momentos depois se sentaria numa cadeira dos seus estúdios. Um circo cinzento, cheio de personagens que não nos inspiram confiança e que pouco parecem saber para que serve um Presidente. Carregados de ideologias vincadas de que não abdicam dando a ideia de candidatos de facção. O que nos leva ao dilema do título. Votar em quem quando muitos de nós não se identificam com ninguém?