Cinco deputados da oposição afastam-se do parlamento liderado por Juan Guaidó
Deputados da oposição na Venezuela anunciaram, na terça-feira, que vão deixar o parlamento liderado pelo líder opositor Juan Guaidó por não concordarem com a decisão de manter o órgão.
Nas redes sociais, os cinco deputados, Stalin González, Marialbert Barrios, Dennis Fernández, Jesús Yánez e Rafael Guzmán, afirmaram continuar a defender a democrcia e o povo venezuelano.
O segundo vice-presidente da Assembleia Nacional e membro do partido Um Novo Tempo, Stalin González, indicou, numa mensagem divulgada na rede social Twitter, que se fechava "um capítulo cheio de aprendizagens, de grandes acertos, mas também de erros".
"O voto é um objetivo estratégico para decidir" o futuro dos venezuelanos, que devem lutar para que exista um ambiente com condições em que valha a pena votar, mas "se um grande ator internacional não contribui para uma aproximação, a via fica comprometida", disse. "Fica muito trabalho pela frente, devemos organizar-nos e trocar ideias", acrescentou.
Marialbert Barrios, do partido Primeiro Justiça, adiantou que vai continuar a lutar para que os venezuelanos "sejam protagonistas das conquistas e dos direitos civis mais urgentes" pela "participação, liberdade de expressão e de protesto, e a garantia de eleições em condições justas".
Já Dennis Fernández, da Ação Democrática, disse que vai defender a democracia a partir de "outros espaços", prometendo que a luta vai continuará "na areia política e social".
Do mesmo partido, Jesús Yánez justificou o afastamento por não precisar de ser deputado para manter a aposta no regresso da democracia a Venezuela.
"Durante cinco anos, com abnegação, dediquei-me a servir o meu país. Como bom 'adeco' [militante da Ação Democrática] lutarei por uma Venezuela livre e pelos venezuelanos", escreveu no Twitter.
Do partido Primeiro Justiça, Rafael Guzmán escreveu nas redes sociais: "O mandado é um empréstimo que os cidadãos nos dão que, segundo a nossa Constituição, termina hoje. Sempre defendi a nossa Carta Magna e por isso, fecho uma etapa como deputado, mas na minha condição de cidadão continuarão a contar comigo".
Na terça-feira, numa sessão parlamentar, o líder opositor e autoproclamado Presidente interino da Venezuela Juan Guaidó jurou que o parlamento liderado pela oposição vai continuar em funções.
A sessão parlamentar da oposição decorreu virtualmente e ao mesmo tempo que nos espaços físicos da Assembleia Nacional (parlamento) tomavam posse os deputados eleitos nas legislativas de dezembro último, escrutínio em que a oposição aliada a Juan Guaidó não participou, tendo denunciado fraudes.
"Sem deputados legitimamente eleitos para este novo período legislativo, corresponde ao parlamento, eleito em 2015, continuar em funções, até que haja uma eleição válida", declarou Guaidó.
O líder opositor frisou ainda que "a liberdade da Venezuela é o único mandato encomendado" ao parlamento e que "o reconhecimento da comunidade internacional não é um obséquio amável à sociedade civil, é uma conquista, uma luta diária contra uma ditadura que tem as residências dos nossos deputados cercados".
Guaidó sublinhou que a oposição vai continuar a trabalhar neste ano para conseguir a transição política, acrescentando que "as transições são construídas".
Na sessão virtual, em que participaram mais de 100 deputados, Juan Pablo Guanipa e Carlos Berrizbeitia, tomaram posse como vice-presidentes do "velho" parlamento opositor, e Wilfredo Febres Peñalver, como secretário, até que no país se realizem "eleições livres, justas e verificáveis".
A oposição venezuelana liderada por Guaidó não reconhece Nicolás Maduro como Presidente da Venezuela, denunciou alegadas irregularidades nas eleições presidenciais antecipadas de 2018 e acusou o chefe de Estado de estar "a usurpar" o poder.
Desde janeiro de 2020, a Venezuela tem dois parlamentos parcialmente reconhecidos, um de maioria opositora, liderado por Guaidó, e um pró-regime do Presidente Nicolas Maduro, liderado por Luís Parra, que foi expulso do partido opositor Primeiro Justiça, mas que continua a afirmar ser da oposição.
A crise política, económica e social na Venezuela agravou-se desde janeiro de 2019, quando Guaidó jurou assumir as funções de Presidente interino do país até afastar Nicolás Maduro do poder, convocar um governo de transição e eleições livres e democráticas.