É como se o Mundo fosse acabar
Nos últimos anos uma grande parte da discussão no espaço público, em diversos setores, tem vindo a ser marcada por um maior dramatismo, por um extremar de posições e por cada vez maiores fissuras, quer sociais, quer políticas.
Podem ser várias as razões para tal mas, no entanto, creio que dois fatores concorrem para a explicação deste facto: a globalização trazida pelas redes sociais e o papel dos media.
A globalização acelerou as nossas vidas; traz-nos muito mais informação e de forma cada vez mais veloz; conseguimos fazer muito mais coisas em menos tempo e estamos, ao segundo, a par de muito do que se passa no planeta. Nas redes sociais os comentários atropelam-se e o poder exercido pela palavra está ao alcance de qualquer um. Uma conta no twitter pode hoje ser vista e lida por milhões e o seu autor já não precisa do acesso aos media tradicionais, para ser ouvido em todo o Mundo.
Por outro lado, o papel dos media tem vindo, em geral, a acentuar divisões mais simplistas da nossa vida em sociedade. As discussões políticas e sobre temas políticos parecem ocorrer como se estivéssemos na faixa de Gaza, ou no antigo muro de Berlim, onde só se pode estar de um ou de outro lado dos mesmos.
A política parece reduzir-se à luta entre a Direita e Esquerda; na economia só existem patrões ou classe operária e, enfim, os exemplos seriam quase infinitos. E os media, com honrosas exceções, ajudam a esta simplificação e a uma espécie de tribalização do discurso, priorizando o efémero e raras vezes o essencial. É como se na vida fosse tudo ou nada, branco ou preto, positivo ou negativo. E neste campo, provamos do veneno que criámos: um qualquer raciocínio com maior complexidade ou de maior profundidade não tem qualquer sucesso na comunicação mediática. O que não choca, não dramatiza, não atemoriza, não tem grande sobrevivência e passa para segundo plano.
Por último e com o fim dos recursos naturais do planeta a que estamos a assistir, os discursos extremados – de que Greta Thunberg é apenas um exemplo – vão continuar a acentuar-se. Nada no futuro próximo augura qualquer melhoria, como se o Mundo que consumimos vorazmente fosse mesmo acabar amanhã.
O meio termo e a moderação no espaço público estão pela hora da morte.