Número indeterminado de mortos e feridos em incidentes na Lunda-Norte
Pelo menos quatro pessoas morreram na sequência de um alegado "ato de rebelião", envolvendo um grupo ligado ao Protetorado Lunda Tchokwe, segundo a polícia angolana, números que o líder do movimento desmente, apontando para 15 mortos numa manifestação.
Os acontecimentos terão ocorrido na vila mineira de Cafunfo-Cuango.
O Movimento Protetorado da Lunda Tchokwe, que luta pela autonomia da região das Lundas, no Leste-Norte de Angola, tinha agendado para hoje uma manifestação, mas os dirigentes queixam-se de ser alvo de perseguições e denunciaram várias detenções nos últimos dias.
Um comunicado hoje divulgado pelo Comando Provincial da Lunda Norte da Polícia Angolana dá conta da morte de quatro pessoas durante a madrugada devido a um "ato de rebelião armada", informação que outras fontes ouvidas pela Lusa contrariam.
Segundo a polícia, o ato foi praticado por cerca de 300 elementos ligados ao Protetorado Lunda Tchokwe, na vila mineira de Cafunfo-Cuango que tentaram invadir, cerca das 04:00, uma esquadra da polícia para a ocupar e colocar uma bandeira.
A polícia diz que os manifestantes estavam armados com armas de fogo, armas brancas, paus e ferros e causaram ferimentos a dois oficiais, tendo sido mortas quatro pessoas e outras cinco ficado feridas durante a tentativa de dispersão.
A versão policial é contrariada por ativistas cívicos da Lunda Norte e pelo presidente do movimento que, em declarações à Lusa, referiram números de mortos diferentes e afirmaram que os manifestantes não estavam armados.
Segundo José Mateus Zecamutchima, presidente do Movimento do Protetorado da Lunda Tchokwe, um grupo de pessoas dirigia-se por volta das 06:00 para o local da manifestação quando se viram envolvidos em confrontos com a polícia, na sequência dos quais resultaram 15 mortes e 19 pessoas feridas, incluindo uma criança.
O dirigente, que negou a tentativa de invasão da esquadra, disse à Lusa que foi enviada antecipadamente uma carta ao governo provincial pedindo autorização para a manifestação pelo direito de reconhecimento da autonomia, mas a polícia "começou logo a prender pessoas", encontrando-se detidos desde dia 16 de janeiro 12 membros do movimento.
José Mateus Zecamutchima negou também que estivessem armados: "vamos encontrar arma onde? Quem vai nos dar arma", questionou, lamentando que as autoridades não assumam o que aconteceu e cujas imagens estão a ser partilhadas através das redes sociais.
Também Jordan Muacabinza, ativista cívico e defensor dos direitos humanos, morador em Cafunfo, referiu que os manifestantes estivessem armados e adiantou que as informações que recolheu apontam para sete mortes
"Militarizaram toda a zona", disse à Lusa, explicando que a sua casa, bem como a de outros ativistas, está cercada e que ninguém está autorizado a sair.
"Toda a população do Cafunfo está fechada nas suas residências. A zona está militarizada e em estado de sítio", acrescentou o ativista independente, que não pertence ao movimento Protetorado da Lunda Chokwe.
"Pelo que sei, não estavam armados, nunca vi nenhum militante aqui armado", afirmou, relatando que a polícia e os militares dispararam indiscriminadamente contra civis.
A autonomia da região das Lundas (Lunda Norte e Lunda Sul, no leste angolano), rica em diamantes, é reivindicada por um movimento que se baseia num Acordo de Protetorado celebrado entre nativos Lunda-Tchokwe e Portugal nos anos 1885 e 1894, que daria ao território um estatuto internacionalmente reconhecido.
Portugal teria ignorado a condição do reino quando negociou a independência de Angola entre 1974/1975 apenas com os movimentos de libertação, segundo o movimento.