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Tempo

Saudades desse tempo. Estranhamente, do tempo em que não tínhamos tempo

Não sei se por confluência dos astros ou pelo que seja mas, nestes últimos tempos, tenho sido variadíssimas vezes convidado a reflectir sobre o tempo, esse bem supostamente escasso que, afinal de contas, parece tão somente necessitar de ser organizado, se o quisermos aproveitar convenientemente.

O tempo, em tempos, era desculpa para tudo. “Não tive tempo”; “não me deram tempo”; “o tempo passou muito depressa”. O tempo, sempre o tempo, que nos impedia de prosseguir e de, curiosamente, fazer andar o tempo à velocidade certa.

Agora que o temos (ao tempo, como penso perceberão), alguns até em excesso, o que fazer com tanto tempo? No meu caso, único testemunho que posso dar, esta reflexão sobre o tempo leva-me a concluir que, infelizmente, não soube aproveitar o tempo em que tive tempo.

E, como ele não volta para trás, agora não tenho outro remédio senão correr atrás do tempo. E corro! Mais, não tendo nunca na vida sido um fundista, vejo-me obrigado a perceber que, neste tempo que vivemos, não temos outro remédio que não seja dar tempo ao tempo, o que exige fôlego. Mas será que ainda vou a tempo?

Apetece-me às vezes pensar no outro tempo. Como alguém dizia com piada, o tempo em que olhava ao espelho e me via gordo e velho quando agora, passado este tempo, percebo que se calhar não estava assim tão gordo nem era assim tão velho… Saudades desse tempo. Estranhamente, do tempo em que não tínhamos tempo.

O tempo passa. Inexoravelmente! Estamos a vê-lo passar? Penso, outrossim, que não temos noção de que passa. E vamos deixando andar, pensando em soluções para que o tempo ande mais devagar. Arranjando desculpas para o facto de mesmo este reduzindo a velocidade, na mesma não termos capacidade para o acompanhar.

Acredito que não conseguimos parar o tempo. Nem de o fazer adiantar! Também não acredito que sejamos capazes de condicionar o tempo dos outros e que somos tão somente responsáveis pelo nosso tempo. Sem desculpas e cientes de que, muitas vezes, não vamos conseguir dar ao tempo o tempo que ele (ou nós) precisa(mos).

Deixemos, portanto, o tempo andar. Ao seu ritmo. Ao nosso ritmo. Saibamos, no entanto, que ele (o tal tempo, lembram-se) está mesmo a andar. Para a frente e não para trás. Talvez fosse conveniente começarmos a tomar decisões ao ritmo da exigência do tempo. Pelo menos a esse ritmo; já não seria nada mau… Mas será que ainda vamos a tempo?

Coisa mais tonta, esta do tempo. Vale-me ser uma palavra de 5 caracteres apenas; não fosse e diria que ler isto era uma perda. Mas só de tempo…

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