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Quando o Turismo regressar

O próprio turismo, e a sua história, podem constituir a atracção turística

Costuma dizer-se que o que mais atrai os turistas são os lugares onde não há turismo. Existe um fundo de verdade nesta constatação: a natureza virgem e os lugares inexplorados atraem muita gente. Porém, se assim fosse, depressa esses lugares imaculados se transformariam em lugares turísticos deixando, portanto, de atrair turistas... Felizmente, há turistas para todos os gostos e em número mais que suficiente para alimentar essa grande indústria do lazer que, não fora a pandemia, teria continuado o seu ciclo de ininterrupto crescimento e diversificação: viaja-se pelo sol e pela praia; para visitar cidades e monumentos; para praticar desporto; para recuperar a saúde; por motivos religiosos; por uma mistura de tudo isto ou, simplesmente, por puro desfastio.

Se os turistas fossem apenas atraídos pelos lugares onde não há turismo, o Funchal estaria, mais ou menos, na situação em que está hoje, isto é, falido. Na verdade, a capital do arquipélago é uma das cidades portuguesas onde a presença do turismo se faz sentir há mais tempo. Primeiro na sua vertente terapêutica - durante todo o século XIX - e, mais tarde, já na transição para o século XX , sobretudo após a Primeira Grande Guerra, na sua vertente lúdica. Os anos 60 do século passado, vêem surgir o chamado turismo de massas, a viagem ao alcance de um grande número de trabalhadores Europeus. Segue-se mais de mais de meio século de ininterrupto crescimento, até que em 2020, mais precisamente em Março de 2020, ficamos a saber o que seria o Funchal sem turismo.

No passado, a cidade soube sempre adaptar-se a esta população flutuante criando as estruturas necessárias para a acolher: o século XIX, tempo das longas permanências que duravam toda a estação de inverno, é o período áureo das quintas de aluguer, que, com os seus jardins, povoaram a encosta da cidade conferindo-lhe um carácter inconfundível; na transição para o séc. XX, com o aumento das estadias cada vez mais curtas do turismo de lazer e o crescente afluxo de passageiros em trânsito pelo porto, surgem os primeiros hotéis dignos desse nome: como o Reid’s ou o Grand-Hotel Belmonte; finalmente, a partir da abertura do aeroporto e com a chegada dos primeiros charters, inicia-se a era da arquitectura hoteleira em betão armado, cujo expoente máximo é, ainda, o hotel Casino Park de Oscar Niemeyer e Viana de Lima.

Não, os turistas não são apenas atraídos pelos lugares onde não há turismo. O próprio turismo, e a sua história, podem constituir a atracção turística. Quem nunca sonhou passar umas noites no Copacabana Palace do Rio de Janeiro, no Excelsior no Lido de Veneza, no Negresco em Nice frente à Promenade des Anglais? Seria bom que nos lembrássemos mais do passado do turismo quando falamos do Funchal e dos seus atractivos. Estão ainda de pé alguns belos hotéis da nossa cidade, algumas quintas - construções carregadas de história (e de histórias) que poderiam, quem sabe, adquirir nova vida, ou apenas mais vida, com um restauro criterioso para quando o turismo regressar.

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