A minha pulga de estimação
Antes de mais, uma explicação. O texto inclui uma tabela com índices do JORAM (Jornal Oficial onde são publicados todos os diplomas) deste ano. Na primeira linha estão os números e datas do JORAM que têm resoluções da Presidência do Governo e na segunda, os números das Resoluções com a indicação da data do Conselhos de Governo (CG) em que elas foram tomadas.
Pedindo aos leitores o favor de acompanhar a leitura do texto com a tabela, desde logo é fácil darmo-nos conta de uma falta de lógica ou de critério na publicação das resoluções; enquanto umas vão tão depressa para publicação que o JORAM tem a mesma data do CG, outras há que saindo de uma mesma reunião se vão distribuindo por vários Jornais. Um bom exemplo é o Conselho de 14 de Janeiro com resoluções distribuídas ao longo de sete dias.
Se esta publicação às pinguinhas é de propósito, é bom que se perceba porquê e para quê; se não é de propósito, com tantos assessores que pululam pelo Governo, é caso para dizer que ali está reunida a elite da incompetência. E já agora, haverá algum assessor disponível para explicar para quando a publicação da resolução nº 22?
De repente, uma surpresa: há dois JORAM com o nº 13, um de 20 de Janeiro e outro de 22. Voltei a procurar por um assessor para me explicar… mas, nem um!
Perguntará o leitor porque me dei a este trabalho. É simples: uma pulga cheia de pedigree que habita atrás da minha orelha, um destes dias deu-me uma ferroada. E a seguir gritou-me alto e bom som: é o Teatro, estúpida! Ora eu não posso ser assim humilhada por uma pulga e por isso meti logo pés ao caminho…
Depois de algum tempo, eis senão quando os meus neurónios entram em curto circuito e começam a juntar factos e a fazer perguntas sobre assistência a espectáculos.
O CG de 4 de Janeiro, através da resolução nº 1, passa a impor o limite máximo de 5 espectadores/espectáculo (ao contrário dos 50 anteriores) até ao dia 15 de Janeiro; esta resolução é publicada precisamente a 4 de Janeiro.
De outra reunião do CG, a 14 de Janeiro, temos nota de várias resoluções (com diferentes dias de publicação) entre elas uma, a nº 38, que continua a proibir mais de 5 espectadores até 31 de Janeiro.
No dia 15 – dia a partir do qual os espectáculos voltariam a poder ter 50 espectadores – o Teatro Baltazar Dias anuncia que no dia 21 levaria à cena o espectáculo “Ezequiel”.
Só no dia 20, uma semana depois da reunião de 14 e na véspera do espectáculo, a resolução nº 38 é publicada! Aqui há má fé!?, admirou-se a pulga.
E porque será que há dois JORAM com o mesmo número 13? Será que um (o de 22/Jan) já estava em preparação quando foi preciso arranjar à pressa outro (datado de 20/Jan) para enfiar uma resolução nº 38 e no meio da trapalhada esqueceram-se de mudar o número? Aqui há gato!, desabafa pulga.
Por descargo de consciência, fui à página da Presidência consultar o comunicado do CG de 14 de Janeiro. NÃO HÁ UMA referência ao prorrogamento da restrição de 5 espectadores por espectáculo, restrição que terminava no dia seguinte, a 15. É impossível terem-se esquecido.
Como é impossível tudo isto não ser calculado para criar constrangimento. Ou de certa maneira um castigo que, muito mais do que ao Teatro é dirigido à Câmara do Funchal. E se para isso for preciso sacrificar alguém (os actores, os técnicos, os operadores, os músicos, os artífices, os produtores, os próprios espectadores) … temos pena, são danos colaterais!
Pois, e este ano são as eleições autárquicas, não é?, perguntou a pulga.