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Porque falhou a contenção da Covid na Madeira?

2020 não foi um ano prazenteiro, mas 2021 não começou melhor. A estatística é ilustrativa: em todo o ano passado tivemos 1760 casos Covid na Região, de que resultaram 14 mortes. Só nas primeiras 3 semanas de 2021 foram 2635 novos casos e 20 fatalidades.

Numa análise mais imediata, poderíamos concluir que o nosso Sistema de Saúde (público + privado) sucumbiu perante a avalanche de casos e foi o culpado de não conter esta onda pandémica. Mas pergunto-me, será mesmo assim?

Quando o mundo tomou consciência do surto chinês, faz agora 12 meses, um adjetivo definiu o estado de espírito de todos nós, “incerto”. Tudo era incerto. A sua origem, o tipo de contágio, a gravidade, o tratamento, enfim, as consequências disto tudo!

Passado um ano, ainda há incertezas, sim há, mas não tantas. Já descobrimos algumas das regras do jogo. Neste jogo o “Ás” é o distanciamento e o “Trunfo” é a antecipação. Ou seja, quem mantém a distância na altura certa, ganha o jogo da Pandemia!

Em março, a Madeira assustou-se com os primeiros casos e, de forma sábia, distanciou-se do resto do mundo. A forma mais simples foi fechar o porto e o aeroporto. Conjuntamente com o confinamento, o fecho das escolas e turismo, permitiu-nos escapar, em grande medida, à primeira vaga que varreu o mundo.

Adicionalmente inovámos na Região. Aquando da reabertura do aeroporto, testámos os turistas, visitantes e residentes em viagem. Surgiu a App Madeira Safe. Confinámos compulsivamente os positivos. Iniciámos a pré-testagem no Continente. Fizemos o rastreio epidemiológico, aqui muito facilitado por sermos uma ilha. Implementámos o uso da máscara na rua, quando isso não era norma na Europa. Em resumo, medidas que permitiam “peneirar” os casos positivos.

Nestes meses, vi profissionais da saúde darem o seu melhor, muito mais do que são obrigados. Vi preparação e abnegação. A própria letalidade foi reduzida. A sábia contratação de novos enfermeiros nos últimos anos revelou-se importante. Nesta perspetiva, e tirando algumas oportunidades não aproveitadas, tanto o nosso Sistema de Saúde, como o SNS, passaram com distinção o teste inicial.

Passámos o Verão serenos, respiramos um pouco de esperança. Pergunta-se então, o que aconteceu depois do Outono?

Quem estudou matemática elementar, conhece as fórmulas. E as fórmulas têm variáveis, ou seja, variando um parâmetro, modificam-se outros parâmetros ou o resultado final. Importa saber como as variáveis evoluíram ao longo do tempo.

Vejamos, o teste só deteta cerca do quinto dia, pelo que houve positivos que entraram na Madeira. As escolas abriram, retomou-se o desporto fora da Região. Os madeirenses voltaram a viajar, a conviver, a jantar fora, a receber turistas e familiares. As empresas retomaram alguma normalidade, houve mais comércio, em suma, menos distanciamento.

Estas variáveis acabaram por causar algumas consequências. O mais grave foi o aparecimento de três novas variáveis: o número de casos disparou em locais com voos para a Madeira, seja Lisboa, Londres ou Frankfurt; surgiram na Madeira variantes do vírus com maior transmissibilidade; chegou o Natal e o Fim de Ano, com o consequente frio e a confraternização, mesmo que mitigada.

Havia que abrir o champanhe para esquecer 2020, dizia-se! E, ao contrário da Alemanha e do Reino Unido, em que o Natal foi confinado, em Portugal, António Costa permitiu um “confingimento”. Na Madeira terá havido festas de Fim de Ano sem as devidas cautelas.

E não adianta as autoridades ficarem indignadas ou diabolizar os incumpridores. Há-os em todas as sociedades, tem sim que os fiscalizar. A variável psicológica não é menos importante. Seja por alguns negarem a doença, seja pelo natural cansaço do confinamento, a ambiguidade na mensagem (“está tudo controlado”) e “simbolismos” pouco felizes. Um exemplo, o almoço de Natal do Governo no Mercado dos Lavradores talvez pudesse ter outro formato e enquadramento.

Em conclusão, todas estas variáveis cresceram, logo, os casos positivos também, dificultando sobremaneira o rastreio epidemiológico na Madeira e a contenção da doença. Quisemos tudo: mais economia, o ensino presencial, uma vida mais normal, a falsa sensação de segurança, tudo isto juntamente com menos casos. Neste jogo pandêmico, tal não é possível, nem aqui, nem em lugar nenhum!

O que falhou? Na minha humilde opinião, foi a “antecipação”. Muitos governos não anteciparam o rumo destas variáveis. E a coragem para conter a pandemia de Março, não a repetiram em Dezembro. Venceram aqueles que governaram na simbiose ciência/transparência.

Uma conclusão final. O serviço público de saúde mostrou ser fundamental, mesmo que, quando em “velocidade de cruzeiro”, tenha ineficiências, grandes listas de espera e elevados custos. Apesar de criticado dentro da minha área ideológica, sinto-me bem defendendo um SRS/SNS robusto e moderno.

Agora, depois disto tudo, vamos lá rodar ao contrário dessas variáveis. Se queremos ganhar o jogo, a população que mantenha o “Ás” (distanciamento) e o Governo use o “Trunfo” (antecipação)!

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