ASPE denuncia pressão a enfermeiros sem opção para acompanhamento dos filhos
A Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) denunciou que há enfermeiros a serem pressionados a ir trabalhar sem opção viável de acompanhamento dos filhos e reivindica que as crianças possam continuar a ir para as escolas que frequentam.
Contactada pela Lusa, na sequência de um texto publicado na página da ASPE na rede social Facebook, a presidente, Lúcia Leite, criticou que os enfermeiros estão sem opções de acompanhamento dos filhos a não ser colocar as crianças nas escolas designadas para acolher os educandos de profissionais imprescindíveis para combater a pandemia.
Se "existe necessidade de disponibilidade dos enfermeiros" por causa do aumento do número de infeções, de internamentos e de óbitos associados ao SARS-CoV-2, então o Governo tem de garantir que os filhos dos enfermeiros fiquem nas "próprias escolas" em que estão matriculados, com "os mesmos professores, as mesmas educadoras", defendeu a dirigente da ASPE.
Lúcia Leite utilizou o exemplo de Ovar, distrito de Aveiro, em que a instituição que acolhe os filhos dos profissionais da linha da frente é a Escola Secundária Dr. José Macedo Fragateiro.
"Obviamente ninguém vai levar crianças pequenas para uma secundária", sustentou, acrescentando que há crianças "com necessidades especiais" que precisam de "alguns cuidados" específicos.
De acordo com o despacho 1050-A/2021 - emitido pelo gabinete da ministra da Saúde, Marta Temido, e publicado em Diário da República na segunda-feira -, que explicita as "regras em manteria de articulação entre assistência à família e a disponibilidade para a prestação de cuidados de saúde", quando o agregado familiar é apenas composto por profissionais de saúde, tem de ser privilegiado "o recurso ao estabelecimento de ensino, creche, creche familiar ou ama" para acolher os filhos.
Se apenas um dos elementos do agregado é um profissional de saúde, o acompanhamento dos filhos pode ser feito um outro "membro do agregado familiar, ou pessoa com quem viva, maior de idade".
Na eventualidade de o agregado familiar incluir profissionais de saúde e trabalhadores de outros setores de atividade considerados imprescindíveis, a "assistência é prestada preferencialmente" pelo elemento que não é profissional de saúde.
Contudo, a presidente da Associação Sindical Portuguesa de Enfermeiros diz que há enfermeiros que não têm outra possibilidade de acompanhamento além da ida para as escolas, razão pela qual defende que as crianças fiquem no estabelecimento em que estão matriculadas.
A ASPE também denunciou "a pressão" que está a ser exercida sobre os enfermeiros para irem trabalhar, independentemente de terem condições para prestar o acompanhamento aos filhos.
"Há muitas enfermeiras casadas com polícias, o que coloca uma dificuldade objetiva. Se o polícia tem a obrigação de estar presente, obviamente que quem tem de ficar em casa com as crianças é a mãe. A seguir tem o hospital a dizer-lhe que ou a põe na escola, que não é adequada, ou se não a puser na escola vai ter uma falta injustificada", frisou Lúcia Leite.
Questionada sobre se houve alguma falta dos enfermeiros para ficarem em casa com os filhos foi considerada injustificada, a dirigente respondeu que ainda não tem conhecimento de situações deste género, mas há "e-mails que os departamentos de recursos humanos estão a enviar" a estes profissionais, "dizendo que se não se apresentarem ao serviço lhes será marcada falta injustificada".