Perigos e optimismos marcam reacções às projecções
Conhecidas as projecções, alguns candidatos, partidos e directores de campanha pronunciaram-se. Eis as linhas fortes das primeiras impressões.
Todos terão de refletir sobre "perigo" para Constituição
O diretor de campanha de Ana Gomes afirmou hoje que a candidatura da socialista conseguiu transformar estas presidenciais num "processo eleitoral competitivo", mas avisou que todos os quadrantes políticos terão de refletir sobre "ameaças sérias" à Constituição.
Numa primeira reação às projeções televisivas, que apontam para a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta, com Ana Gomes em segundo e André Ventura em terceiro, Paulo Pedroso defendeu que a candidata conseguiu alcançar um objetivo.
"Esta candidatura pretendia e conseguiu transformar estas eleições num processo eleitoral competitivo em que estivessem representadas todas as sensibilidades políticas do país", disse, defendendo que haveria "um espaço deserto" se a militante do PS (sem apoio do partido) não tivesse avançado.
Questionado se se pode falar numa derrota da esquerda, o antigo ministro remeteu para uma análise posterior dos resultados, mas deixou um aviso.
"Esta noite vai obrigar todos os quadrantes políticos que se reconhecem na Constituição e repensar o futuro, porque não podemos ignorar que, pela primeira vez desde o 25 de Abril, há ameaças sérias à Constituição, são um perigo e não apenas uma nova ideia", afirmou Pedroso, numa referência indireta a André Ventura.
Paulo Pedroso referiu-se também aos valores projetados para a abstenção pelas várias televisões, entre os 50 e os 60%.
"Em primeiro lugar, é importante saudar os milhões de portugueses que saíram de casa para votar nestas condições adversas da pandemia e, com o seu voto, derrotaram as previsões absurdas de abstenção e demonstraram a importância da eleição direta do Presidente da República", afirmou.
Para Paulo Pedroso, a afluência às urnas demonstra que os portugueses "não aceitam a desvalorização destas eleições", e defendeu que a eleição direta do chefe de Estado "é um dos elementos fundamentais do equilíbrio de poderes em Portugal
"Ainda não há resultados, mas o que se pode verificar é que estas eleições tiveram uma representação de um espaço que congrega a esquerda democrática, forças progressistas, moderadas, europeístas e ecologistas e que teria ficado deserto se não existisse", disse, numa declaração com direito a tradução em língua gestual portuguesa.
Candidatura de Ventura destaca "meio milhão de votos" e ainda espera 2.º lugar
O mandatário nacional e diretor de campanha do candidato presidencial do Chega sublinhou hoje os cerca de "meio milhão de votos" angariados, segundo as projeções das televisões, reiterando a esperança de André Ventura ficar em segundo lugar.
"Temos de dizer que estamos satisfeitos com os resultados apurados até agora. Meio milhão de votos para um partido que teve 1,29% nas últimas eleições e percentagens de 9, 10, 11, 12, 13 ou 14% é um resultado histórico, sinal de que os portugueses querem mudar este país", disse Rui Paulo Sousa.
O também vogal da direção nacional do partido da extrema-direita parlamentar falava aos jornalistas no hotel lisboeta que serve de sede à noite eleitoral de André Ventura.
"Continuamos a pensar em atingir segundo lugar, vamos aguardar serenamente", vincou Rui Paulo Sousa, adiantando que o concorrente ao Palácio de Belém e deputado único deverá dirigir-se ao país, pelo menos uma vez, cerca das 22:00.
As projeções da RTP, SIC e TVI apontaram para a reeleição à primeira volta do chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, ficando a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes em segundo e Ventura, no terceiro posto.
A concretizar-se tal cenário, o líder do Chega deverá apresentar a sua demissão, como prometeu.
Ventura propôs-se ser o segundo candidato mais votado, à frente de Gomes, Marisa Matias e João Ferreira e provocar uma segunda volta do sufrágio.
BE assume que caso projeções se confirmem objetivos não foram atingidos
O BE assumiu hoje que, se as projeções de confirmarem, a candidatura de Marisa Matias não atingiu os objetivos traçados, apontando para uma reconfiguração da direita resultante da normalização da extrema-direita, que considera "um mau resultado para o país".
Pedro Filipe Soares foi quem, em nome da candidatura, apoiada pelo BE, de Marisa Matias à Presidência da República, fez uma primeira reação às projeções já conhecidas dos resultados das eleições presidenciais de hoje.
"Sendo conhecidos agora os dados das projeções que iremos avaliar ao longo da noite, a primeira conclusão que gostaríamos de partilhar convosco é que reconhecemos que os resultados, se as projeções se confirmarem, demonstrarão que não atingimos os objetivos que tínhamos traçado para estas eleições", assumiu.
O segundo ponto relevante para o dirigente bloquista é que se assiste, com estes resultados, "a uma reconfiguração da direita".
"Em particular a um reconhecimento que normalizar a extrema-direita é um mau resultado para o país. Avisámos várias vezes e muitas das vezes fomos ignorados e outras das vezes fomos até contestados. A normalização da extrema-direita, feita em particular pelos agentes da direita, resulta numa reconfiguração que hoje está aos olhos de todas e de todos", criticou.
Candidatura de João Ferreira destaca possibilidade de "progresso" em relação a 2016
A candidatura de João Ferreira sublinhou hoje a possibilidade de haver "um progresso relativamente" às últimas eleições presidenciais, considerando, no entanto, que é ainda é cedo para comentar resultados quando apenas são conhecidas projeções.
"Vamos esperar pelos resultados, há sondagens que nos dão mais de 6% e, portanto, estamos a falar de projeções ainda, não estamos a falar de resultados, mas, enfim, estamos perante a possibilidade de haver um progresso relativamente às últimas eleições presidenciais" no que toca ao resultado do candidato apoiado pelo PCP, disse o membro da Comissão Política comunista Jorge Pires.
Minutos depois de serem conhecidas as projeções dos resultados das televisões, Jorge Pires destacou a "campanha notável" do candidato comunista e recusou comentar se a possibilidade de João Ferreira ficar à frente da candidata apoiada pelo BE, Marisa Matias, poderá estar relacionada com a posição assumida por ambos os partidos na votação final global do Orçamento do Estado para 2021 -- PCP absteve-se e o BE votou contra.
Porta-voz de Mayan diz que projeções confirmam "onda liberal"
O porta-voz da candidatura de Tiago Mayan Gonçalves, Rodrigo Saraiva, afirmou que as projeções confirmam a "onda liberal" nas eleições presidenciais que se realizaram hoje.
"É certo que não haverá uma segunda volta e, portanto, as eleições presidenciais terminam hoje, e a segunda coisa que podemos já concluir é que a onda liberal que o Tiago Mayan falou confirma-se", salientou Rodrigo Saraiva, na sede de campanha improvisada, num restaurante do Porto.
Para o porta-voz da candidatura liberal, as projeções confirmam "que a decisão do Tiago em avançar para estas eleições, a decisão da Iniciativa Liberal (IL) em apoiar o Tiago nesta caminhada foram decisões corretas, porque havia um eleitorado que não podia ficar órfão, havia um eleitorado que queria um candidato que representasse uma visão liberal, moderada e humanista e as projeções confirmam que essa foi uma decisão acertada".
Rodrigo Saraiva salientou que esta "uma visão liberal para a sociedade começou nas Europeias, passou pela Madeira, confirmou-se nas legislativas, confirmou-se também nas regionais dos Açores e confirma-se agora nestas presidenciais".
"A IL, o Tiago Mayan, uma visão liberal e moderada para a sociedade veio para fazer parte do jogo democrático e veio para ficar", sublinhou.
Vitorino Silva só quer ter "mais um voto" do que há cinco anos e aguarda optimista
O candidato presidencial Vitorino Silva confessou hoje que só quer "ter mais um voto" do que há cinco anos, mostrando-se esperançoso com a possibilidade de ter mais votos do que em 2016, em reação às primeiras projeções.
"Eu só acredito numa sondagem que é a da contagem dos votos mas estava em zeros durante muito tempo (...) Agora é esperar pelos resultados. Acho que devo estar orgulhoso pelo caminho que tive e é um bom caminho", considerou o candidato.
Vitorino Silva, mais conhecido por 'Tino de Rans', que está a acompanhar os resultados das eleições presidenciais a escassos metros de sua casa, em Rans, Penafiel, acrescentou ainda que será uma "honra ficar em sétimo lugar apesar de haver oito pessoas no boletim de voto", referindo-se a Eduardo Baptista, que não conseguiu assinaturas suficientes para a oficialização da candidatura.
"Toda a gente sabe que o meu grande objetivo é ter mais um voto e estou esperançado e acho que posso conseguir mais um voto", disse à Lusa o candidato, ao telefone.
Momentos depois, em declarações aos jornalistas em Penafiel, Tino acrescentou que fez "uma campanha limpinha", "sem padrinhos, sem pai, apenas com apoio de amigos" provando, segundo o próprio, que "é possível qualquer português ser candidato", deixando um apelo: "não tenham medo".