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Reabilitação no ex-Campo do Tarrafal serve para preservar "memória colectiva"

Primeiro-ministro de Cabo Verde aponta ao investimento realizado para conseguir a classificação do complexo como património da UNESCO

Foto Arquivo
Foto Arquivo

O primeiro-ministro de Cabo Verde justificou ontem o investimento na reabilitação do antigo Campo de Concentração do Tarrafal, ilha de Santiago, com a importância do espaço para a "memória coletiva", esperando "brevemente" a sua classificação como património da UNESCO.

Em causa estão as obras de reabilitação do atual Museu da Resistência, inauguradas neste sábado pelo primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, e que antecedem a candidatura do espaço a Património da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês), que o Governo cabo-verdiano pretende apresentar em 2021.

"Investimos [na reabilitação] porque é importante para Tarrafal, para Cabo Verde e para a memória coletiva", afirmou Ulisses Correia e Silva, assumindo que as "memórias negativas da História devem ser preservadas para que se possam proteger as democracias e liberdades" do presente.

O antigo campo de Concentração do Tarrafal foi classificado pelo Governo de Cabo Verde como Património Cultural Nacional em 2016 e integra atualmente na lista indicativa de Cabo Verde na UNESCO.

Atualmente a funcionar como Museu da Resistência, trata-se do museu mais visitado em Cabo Verde, mas estava encerrado desde 9 de Março de 2020 para obras de reabilitação que deveriam levar oito meses a concluir, inseridas no plano do Governo para candidatar o espaço a Património da Humanidade.

Contudo, devido à pandemia de covid-19, nomeadamente na logística e chegada dos materiais importados, a obra acabou por parar e só começou a ser retomada em finais de Julho.

A assinatura da consignação da empreitada no antigo campo de concentração, pelo Ministério da Cultura e Indústrias Criativas à construtora Vilacelos, empresa com sede em Barcelos, Portugal, através da sucursal em Cabo Verde, aconteceu no final de fevereiro de 2020, sendo a obra realizada no quadro do Programa de Requalificação, Reabilitação e Acessibilidade (PRRA), através do Ministério das Infraestruturas, do Ordenamento do Território e Habitação.

O Governo explicou anteriormente que a obra, de 29,5 milhões de escudos (265 mil euros), visa um dos requisitos da UNESCO para a candidatura a Património da Humanidade que o Governo cabo-verdiano pretende apresentar em 2021.

O investimento implicou a substituição de telhados das antigas celas comuns e pavilhões, e a criação de um percurso pelo interior do antigo campo de concentração, levando ao reforço da componente de museu, entre outros trabalhos.

Ulisses Correia e Silva explicou que, pela importância e urgência da obra hoje concluída, o Governo avançou com esta empreitada através de recursos do Orçamento do Estado, sem aguardar por ajuda externa, esperando que a classificação do espaço como Património da Humanidade possa acontecer "brevemente".

Uma história para não esquecer

Enquanto campo de concentração, o Tarrafal recebeu mais de 500 pessoas, entre 340 antifascistas e 230 anticolonialistas. Destes, 34 morreram no local.

Situado na localidade de Chão Bom, o campo foi construído em 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos em 29 de outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1956.

Em 1962, foi reaberto com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde.

Após a sua desativação, o complexo funcionou como centro de instrução militar, escola e desde 2000 alberga o Museu da Resistência.

O ministro da Cultura e Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, disse anteriormente que o objetivo da obra de reabilitação e da candidatura à UNESCO passa por "transformar um espaço que era triste e que devia envergonhar" num local de "orgulho", desde logo para a população do Tarrafal.

Defendeu também que é necessário "ficar em paz" com aquele local, por exemplo, na tarefa de, com as famílias, decidir sobre os restos mortais dos então prisioneiros que ficaram no Tarrafal.

O governante disse à Lusa, aquando do lançamento desta empreitada, que o Governo cabo-verdiano pretende construir no espaço um memorial aos que estiveram ali encarcerados durante o Estado Novo e vai fazer um levantamento para apurar se ainda há restos mortais de antigos prisioneiros por trasladar.

Recordou que as vítimas mortais do espaço, que ficou conhecido como 'campo de morte lenta', foram enterradas ao longo dos anos no cemitério municipal do Tarrafal, localidade no norte da ilha de Santiago.

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