Entre o espanto e a desilusão tenho percebido que os valores da democracia estão em crise.

Não aceito a justificação de que tudo se deve ao desencanto com os líderes e grupos políticos, como se estes tivessem caminhado sós sem a corresponsabilidade de quem com eles vai estando.

É tão fácil ter ideias soltas e crítica na ponta da língua quando a responsabilidade do que se diz morre em qualquer rede social, num bate papo sem consequências e muito pouca seriedade.

Qualquer um pode dizer o que quer e acreditar no valor da sua palavra, mesmo que a convicção do que diz possa ser residual.

Há muita gente confortável no seu mundo de selfies e exposição social, acreditando que a fama afinal é muito mais fácil de atingir e que os tempos da inveja e da frustração podem ser agora ultrapassados pela hiperatividade, nos seus perfis sociais.

Desde supermodelos imaginários a analistas políticos de coelho na cartola, a enxurrada de disparates e exaltações de egos, exigem uma atenção especial, uma fuga em cadeia, para não mergulhar, quase sem dar por nada, no ridículo e na estupidez.

Apesar de simples o mecanismo de desconectar, com tudo o que não interessa, a verdade é que continuamos por lá sempre prontos para encontrar uma nova desilusão.

Tudo está a acontecer de forma tão rápida que é profundamente assustador imaginar o que seremos em breve.

Quero acreditar que nem tudo está perdido e que esta febre de facilitismo e falsas crenças, entre o certo e o errado, tenha um fim.

Somos muito mais do que a política que anda por aí, mas se continuarmos mergulhados num egocentrismo superficial à espera que um deus nos acuda e nos traga o paraíso de sonho, vamos ser engolidos por um vírus que devagar, devagarinho vai se encostando às nossas distrações e como qualquer oportunista aprender a viver à nossa custa.

Chega para cá, chega para lá é o lema dos oportunistas que atravês de diversas mutações aprendem a sobreviver destruindo o que impede o seu sucesso. Essa é a razão da atual pandemia.