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Amo-te Santa liberdade

Nasci a 25 de Abril de 1949,diz a certidão de nascimento filho de pais incógnitos, isto é não era filho de mãe, não era filho de pai, isto é era filho de uma galáxia ou com há poucos dias uma jurista amiga, sem saber da minha vida afirmou que era filho da câmara.

Sim eu tive uma excelente mãe , era viúva mãe de 3 filhos, que vivia ao lado do quartel aqui nos Piornais, o meu pai sargento do exercito, homem de farda , registou-me como me tendo encontrado.

Quando soube que ia morrer aos 93 anos deixou escrito, que afinal era meu pai, e até disse que o meu nascimento era prova da sua virilidade, mas que eu tinha-me tornado um homem de sucesso e que vivia bem, porém ele ao fornicar( linguagem bíblica) a minha mãe, escreveu nuns papeis que me chegaram às mãos que tudo o que tinha feito era um ato de bem.

O tio João ,o Zé do diabo ,o primo armau, era amigos da liberdade ,pertenciam aos do contra o regime de Salazar ,eram a favor do Santa Liberdade e não do Santa Maria ,mas um rapazinho como eu de 10 anos fui declamar um poema de Pessoa sobre o Padrão inaugurado com pompa e circunstância junto ao cais da cidade, declamei sobre a epopeia dos portugueses sem saber da escravidão dos povos africanos.

Na igreja e na escola apesar da tirania fascista fui aprendendo os diversos conceitos de liberdade, tão diferentes conforme o ponto de vista, aquelas coisas da Mocidade Portuguesa ,as conferências de apoio aos pobres, sempre a caridade ,e quase nunca falar de politica porque isso era subversão.

Dos livros emprestados pela professora Cecilia Ribeiro ,católica ,conservadora, minha segunda mãe, tirei notas que ainda hoje guardo com emoção e ternura e que cito algumas partes : Catarina uma russa em 1905 ,( isto é 12 anos da revolução socialista de Outubro) entendia que esses nobres eram muito patriotas…á custa dos outros. O camponês era uma criatura abjecta e ignorante…que só pensava na sua cabana de barro, e seu cantinho de terra.

Em 1905 ,de entre as mulheres que lutavam pela liberdade, havia muitas que preferiam ser guerreiras na batalha pela justiça do que mães de vítimas da tirania, uma delas a Catarina ,deportada na Sibéria declarou : nós podemos morrer no exílio, os nossos filhos poderão no exílio ,mas alguma coisa resultará um dia.

Foi neste berço que eu nasci, dentro de uma casa sem agua sem luz sem esgotos , mas com uma mãe extremosa que nem a Mãe de Gorki que eu cresci ,estudei e trabalhei e que aos 23 anos me tornei engenheiro, e segui os conselhos do poeta popular António Aleixo :tu que és engenheiro, tens saber profundo vês bem, vê se constróis uma ponte no Mundo que não esmague ninguém.

Lutei por ti meu amor minha liberdade, abriste os teus braços o teu coração no dia dos meus 25 anos, abraçastes tantos, de cores diferentes verdes vermelhos, pretos e amarelos, por ti poetas de todas cores te beijaram, por ti tantos escritores e jornalistas deixaram de temer a censura, os escultores fizeram bustos tão diferentes e sabes que mais foste tu que acabaste com a guerra foste tudo que tornaste o meu Pais democrático e acabaste com a tirania.

Não te deixo em paz estou vigilante ,conta comigo na trincheira para a tua defesa, o teu manto o teu véu ,sabes que li Brecht e guardei no meu caderno, onde tenho aqueles poemas que te enviei: Primeiro levaram os negros /mas eu não me importei com isso/ eu não era negro/ em segundo levaram alguns operários/mas eu não me importei com isso/Eu também não era operário/ Depois prenderam os miseráveis/mas eu não me importei com isso/ porque não sou miserável/Depois agarraram uns desempregados/mas como tenho emprego/também não me importei// agora estão me levando/mas já é tarde/como eu não me importei com ninguém/ninguém se importa comigo.

A poetisa Sofia de Mello Breyner escreveu um poema sobre Salgueiro Maia que é importante nesta data citar :Aquele na hora da vitória/ respeitou o vencido//aquele que deu tudo e não pediu paga//aquele que na hora da ganância perdeu o apetite// aquele que amou os outros e por isso/não colaborou com sua ignorância ou vício/aquele que foi Fiel á palavra dada à ideia tida/ como antes dele mas por ele/Pessoa disse.

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