Guaidó continua a apelar à pressão nacional e internacional para afastar Maduro
Dois anos depois de se autoproclamar Presidente Interino da Venezuela, o líder opositor Juan Guaidó continua a apelar à pressão nacional e internacional para afastar o Presidente Nicolás Maduro do poder, objetivo que prometeu mas não cumpriu.
"O objetivo é um só: recuperar a nossa democracia e liberdade, ter eleições presidenciais e parlamentares livres", afirma na sua conta do Twitter, rede social da qual é um utilizador assíduo.
Com o novo parlamento, saído das legislativas de 06 de dezembro passado, em que não participou por considerar que eram uma fraude, Juan Guaidó desafia as autoridades a deterem-no, mas é raro vê-lo em público e é cada vez mais difícil de contactar.
No entanto, insiste, através das mensagens que deixa nas redes sociais, que só conseguirá a saída de Maduro do poder "forçando uma solução política que acabe com a emergência humanitária" no país e que "a pressão dentro e fora da Venezuela é fundamental".
Mas é também através das redes sociais que o líder opositor é cada vez mais questionado sobre os efeitos reais da consulta popular que realizou entre 07 e 12 de dezembro de 2020, na qual, segundo a oposição, participaram 6.471.428 venezuelanos, para decidir se o parlamento a que presidia continuaria em funções ao terminar o mandato constitucional, o que aconteceu no passado dia a 05 de janeiro.
As questões chegam também de analistas políticos, entre eles Víctor Maldonado, que adverte que a consulta popular não melhorou as condições da oposição nem dos venezuelanos e "não tem tido nenhum efeito prático".
Maldonado, que também é professor universitário, é da opinião que todos estão a tentar "passar a página" da consulta popular, para esquecer o que foi "uma iniciativa falida" da oposição e por isso, questiona que no imediato outras iniciativas da oposição venham a ter sucesso.
No entanto o professor de Estudos Internacionais e Constitucionais da Universidade Central da Venezuela, Óscar Arnal, vê a consulta como "um facto positivo" que conseguiu unificar a oposição à volta de um objetivo.
Arnal, que também é analista político, acredita que a consulta popular permitirá em algum momento que a oposição chegue a "uma negociação de alto nível", porque as pessoas votaram à procura de uma solução eleitoral com um Conselho Nacional Eleitoral "equilibrado" e em qualquer altura as circunstâncias forçarão a ir nessa direção.
Atualmente, depois de vários deputados opositores se terem afastado, Juan Guaidó preside hoje a uma comissão que representa um parlamento paralelo, que está a funcionar de maneira virtual, mas que não é reconhecido pelo Governo venezuelano e os seus membros estão sob investigação da nova Assembleia Nacional, que ordenou uma investigação para determinar os danos que alegadamente causaram ao país.
Juan Guaidó continua a ser reconhecido como Presidente interino da Venezuela por quase 60 países, mas com os venezuelanos dizem acreditar, através das redes sociais, que terá negociado com o regime, e chegam mesmo a afirmar que "o Governo e a oposição são a mesma coisa", razão pela qual "ainda não foi preso".
Trata-se de uma tendência que mudou nas últimas horas, com a União Europeia a reafirmar-lhe o apoio e depois do anúncio do novo secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, nomeado por Joe Biden, de que o novo Governo norte-americano "manterá o reconhecimento" de Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela e da "Assembleia Nacional democraticamente eleita em 2015, como a única instituição legítima na Venezuela".
A Venezuela atravessa uma crise política, económica e social profunda, em particular desde 2017 e que se agravou desde 23 de janeiro de 2019, quando o então recém eleito presidente da Assembleia Nacional (parlamento), Juan Guaidó, jurou assumir publicamente as funções de Presidente interino até afastar Nicolás Maduro do poder, convocar um governo de transição e eleições livres no país.
A economia está dolarizada, com os preços afixados em dólares e cujo contravalor em bolívares varia constantemente, a inflação foi superior a 3.700% em 2020, e registam-se falhas importantes em serviços básicos como o transporte, água potável, eletricidade, gás e combustível, entre outros.
Dados de várias organizações internacionais dão conta que nos últimos anos mais de 4 milhões de venezuelanos abandonaram o país escapando da crise política, económica e social que afeta a Venezuela.