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Dois anos depois há divisões no apoio a Guaidó e dúvidas sobre o futuro

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AFP

Dois anos após o líder opositor venezuelano, Juan Guaidó, prometer mudar o país, os venezuelanos continuam divididos e com dúvidas sobre o futuro, sendo cada vez mais frequentes as queixas contra o regime e a oposição.

"Sim, passaram dois anos e nada melhorou. Agravou-se. Guaidó teve oportunidade para fazer mudanças mas fez o que todos os políticos venezuelanos fazem: prometer e não cumprir", disse à agência Lusa uma empregada de uma empresa seguros.

Aída Figueredo, 45 anos, está "cansada da política, dos políticos, e de esquerda e direita" porque "tirando a ideologia o que fica é nada e apenas gente que quer mais e mais poder, distanciada da realidade".

Em Chacaíto, a caminho do trabalho, esta "promotora" de seguros diz que "a única coisa certa na Venezuela é que a situação continuará a agravar-se e o povo a passar mais dificuldades".

"Os políticos vivem noutro mundo, não padecem as necessidades diárias da população, que diariamente tem que contar o dinheiro porque não chega para compras coisas básicas, que tem que correr a desligar o frigorífico e a televisão devido às falhas de luz, que tem que cuidar as coisas para que não se estraguem e que tem água apenas uma ou duas vezes à semana", lamentou.

No mesmo sentido, contrariado com a atual situação social e política da Venezuela, está José Hernández, 50 anos, que tenta sobreviver como vendedor informal, mas que não entende a inflação no país, "como os preços dos produtos e sobem todos os dias".

"Hoje chegou-me a fatura (conjunta) da eletricidade e do asseio urbano, que aumentou 530% desde outubro passando de 12 para 75 milhões de bolívares soberanos (de 6,35 euros para 40 euros)", explicou.

E por isso questiona "como é possível num país em que a eletricidade falha a cada instante e com quase tudo paralisado, os serviços aumentem de preço e tanto".

"A Venezuela é o país do possível, o que seria ilógico noutros países, aqui acontece e ninguém levanta a voz", conclui.

No seu entender "houve muita esperança" quando Juan Guaidó apareceu, mas "dois anos depois, o discurso continua igual: fim da usurpação [do poder pelo regime do Presidente Nicolas Maduro], governo de transição e eleições livres. Nada melhorou, tudo se agravou".

Uma opinião diferente tem a doméstica Gisela Rebelo, 60 anos, pois insiste que Guaidó "não teve tempo de fazer o que prometeu e foi traído e obstaculizado por muitos políticos que dizem ser da oposição, mas depois aparecem em questionadas alianças".

"É difícil para um político lutar para conseguir um objetivo, quando os que o rodeiam só pensam nos seus interesses pessoais e esse é o grande problema da Venezuela, dos venezuelanos", disse.

Esta doméstica foi a única pessoa a lamentar se Juan Guaidó for preso, mas disse ter esperança que com o apoio do novo Presidente dos Estados Unidos avançar e forçar a Venezuela a mudar.

Apesar de a crise política, económica e social ser complicada, vários empresários venezuelanos disseram à agência Lusa que num futuro próximo a Venezuela terá que flexibilizar o modelo económico e político, para permitir a diversificação da economia e deixar de lado a ideologia que não deixa o país avançar.

"Guaidó teve uma oportunidade para fazer mudança e não conseguiu. Agora todo o poder está de novo em (Nicolás) Maduro e no novo parlamento. Somos um povo paciente que mais tarde ou mais cedo passará fatura", afirmou.

A Venezuela atravessa uma crise política, económica e social profunda, em particular desde 2017 e que se agravou desde 23 de janeiro de 2019, quando o então recém eleito presidente da Assembleia Nacional (parlamento), Juan Guaidó, jurou assumir publicamente as funções de Presidente interino, até afastar Nicolás Maduro do poder, convocar um governo de transição e eleições livres no país.

Dados de várias organizações internacionais dão conta que nos últimos anos mais de 4 milhões de venezuelanos abandonaram o país escapando da crise política, económica e social que afeta a Venezuela.

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