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Idosa de 106 anos que assistiu à gripe espanhola foi vacinada no Brasil

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Zélia Morley, de 106 anos, que assistiu à gripe espanhola, arregaçou hoje as mangas e olhou estoicamente para o lado enquanto uma enfermeira lhe aplicava a vacina contra a covid-19, sendo uma das primeiras pessoas imunizadas no Brasil.

Apesar de milhares de pessoas terem sido imunizadas contra o novo coronavírus ao longo do dia de hoje, Zélia é uma das poucas com idade suficiente para se lembrar de uma pandemia viral anterior, que varreu o seu país e o mundo há um século.

Nascida no Rio de Janeiro em 1914, Morley era uma menina quando a chamada gripe espanhola matou milhões de pessoas em todo o mundo entre 1918 e 1920, quando não havia vacinas disponíveis.

"O Brasil inteiro apanhou [a gripe espanhola]. Muitas pessoas morreram", relatou a idosa, acrescentando:"Eu não esqueço de nada!"

"Acho que esta vacina vai ser muito boa", afirmou Zélia Morley, citada pela agência Associated Press, exibindo um sorriso generoso antes de colocar a máscara azul de volta no rosto:"Está nas mãos de Deus".

Centenários como Zélia estão entre os primeiros cidadãos a receber a vacina em muitos países, incluindo o Brasil, onde a campanha de imunização do Governo começou oficialmente no início desta semana, com a distribuição do imunizante Coronavac, desenvolvido pela chinesa Sinovac.

O médico da idosa, Paulo Cesar Fabiano, de 73 anos, trabalha no asilo "Casa Vovó" há quase quatro décadas, e disse que Zélia lhe contou que os seus pais contraíram a gripe espanhola há quase um século.

"Quando ela tinha 6 ou 7 anos, os seus pais disseram-lhe que as pessoas estavam a morrer nas ruas. Naquela época, não havia antibióticos ou medicamentos. Pessoas morreram como moscas", relatou o médico.

Vários funcionários da "Casa Vovó" estiveram infetados com o novo coronavírus e um teve de ser intubado, relatou Paulo Cesar Fabiano, salientando que nenhum dos residentes idosos testou positivo até agora. Mesmo assim, o medo de possivelmente infetá-los era um fardo para os trabalhadores do asilo.

"Agora, pelo menos vamos ter um pouco de tranquilidade", disse Cessar Fabiano, acrescentando que perdeu muitos amigos e colegas para o vírus nos últimos meses.

"Nós, trabalhadores, não vamos mais nos preocupar em passar a doença para os idosos. Isto é enorme", celebrou o médico.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (211.491, em mais de 8,5 milhões de casos), depois dos Estados Unidos.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.058.226 mortos resultantes de mais de 96,1 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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