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Projecto ATLAS descobre 12 novas espécies no mar profundo do oceano Atlântico

Foto José Luis Rueda
Foto José Luis Rueda

O projeto europeu ATLAS descobriu 12 novas espécies no mar profundo do oceano Atlântico, quarto delas nos Açores, revelou hoje o Observatório do Mar dos Açores, em comunicado de imprensa.

"Doze novas espécies de briozoários, moluscos e cnidários do mar profundo foram pela primeira vez descritas por cientistas. Entre eles encontra-se um bivalve apelidado de 'Myonera atlasiana' (o nome faz referência ao próprio título do projeto)", lê-se no comunicado.

Financiado por fundos europeus, o projeto ATLAS junta "mais de 80 investigadores de países com fronteiras com o Atlântico Norte" e realizou em quatro anos 45 expedições científicas, que, segundo o Observatório do Mar dos Açores, contribuíram "significativamente para o conhecimento acerca dos ecossistemas do mar profundo do Atlântico Norte".

Nos Açores, foram detetadas quatro novas espécies, "através de um estudo liderado pelo IMAR/Okeanos", com os investigadores Marina Carreiro Silva, Filipe Porteiro e Íris Sampaio, em colaboração com outros centros de investigação europeus, como a Fundación Museo del Mar de Ceuta (Espanha), o Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Trieste (Itália), o Ifremer (França) e a Stazione Zoologica A. Dohrn de Nápoles (Itália).

O cnidário 'Epizoanthus martinsae', que coloniza os esqueletos de corais negros dos Açores, foi uma das novas espécies descobertas, tendo sido encontrado no canal entre as ilhas do Faial e do Pico, "a cerca de 360 metros de profundidade, com o auxílio do submarino Lula 1000 da Fundação Rebikoff-Niggeler".

O nome da espécie foi atribuído "em homenagem à norueguesa Helen Martins", investigadora jubilada que se estabeleceu na cidade da Horta, na ilha do Faial, em 1976, "onde foi pioneira em linhas de investigação que ainda hoje decorrem".

Segundo os investigadores, estas espécies "provavelmente já sofrem os efeitos das alterações climáticas", mas "o mar profundo permanece em grande parte ainda muito desconhecido".

"A descoberta de novas espécies no mar profundo alerta para o desconhecimento que ainda existe sobre estes ambientes, numa era em que se estima que cerca de um milhão de espécies de animais e plantas estejam hoje ameaçadas de extinção e que muitas irão desaparecer já nas próximas décadas", salientou a investigadora Marina Carreiro Silva, do IMAR/Okeanos, líder do estudo nos Açores, citada em nota de imprensa, admitindo que os "animais recém-descobertos podem estar já sob ameaça das mudanças climáticas".

O projeto concluiu que "os ecossistemas do mar profundo estão altamente ameaçados", tendo em conta que a circulação do Oceano Atlântico "abrandou consideravelmente nos últimos 150 anos devido às alterações climáticas".

"As descobertas sugerem ou indicam também que o aquecimento do oceano, a acidificação e o decréscimo de alimento podem alterar drasticamente a disponibilidade e localização de habitats adequados para corais de águas frias e peixes de profundidade de importância comercial até ao ano de 2100", lê-se no comunicado.

Segundo o investigador Telmo Morato, coordenador do estudo de biodiversidade e biogeografia do projeto, "foram realizados grandes avanços do conhecimento do mar profundo do Atlântico Norte, impensáveis há alguns anos", e esse conhecimento foi transferido para a decisão política a diferentes níveis.

O coordenador do projeto ATLAS, J. Murray Roberts, professor do departamento de Geociências da Universidade de Edimburgo, considera que o desafio para a próxima década é "pegar nestes novos conhecimentos sociais e científicos, e utilizá-los para criar melhores políticas e planos para atividades humanas no oceano verdadeiramente sustentáveis."

"Toda a gente está consciente da importância de proteger as florestas tropicais e outros habitats preciosos existentes em terra, mas poucos têm noção de que existem tantos, se não mesmo mais, locais especiais no oceano. No ATLAS estudámos os ecossistemas mais vulneráveis do Atlântico profundo e compreendemos agora quão importantes, interligados e frágeis estes são. Descobrimos também que quem habita em redor do Atlântico deseja preservar os ecossistemas do mar profundo, para que permaneçam saudáveis para os seus filhos e netos", frisou.

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