O medo
Março 2020. O choque com uma realidade desconhecida. Aquela sensação de fim do mundo típica de uma produção hollywoodesca. O desconhecido e o surreal de mãos dadas vividos por uma sociedade em conjunto. A Itália, sempre a Itália, e a esperança de que viessem apenas as imagens e não aquela realidade. Nós não queríamos ser a Itália. E não fomos. Tivemos medo. E o medo, às vezes, pode ser o maior afrodisíaco da razão.
Janeiro 2021. Volta a sensação de fim do mundo, de um fim prematuro que parecia poder ter sido evitado na escala em que estamos neste momento. O medo de termos a Itália em Portugal. Nós não somos a Itália. Ninguém quer ser a Itália. Nem a Itália merece ter sido aquela Itália. Mas também o medo de já não termos medo. A falta de medo que nos normaliza, nos escancara as defesas e nos embrutece.
Miguel F. Carvalho