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‘Timeo danaos et dona ferentes’

A História ensinou-nos que convém ler o “prospecto informativo” antes de “comprar”

Tenho medo dos gregos e das suas ofertas. Esta afirmação terá custado a vida ao sacerdote troiano Lacoonte quando, segundo Homero, tentou demover os seus concidadãos de introduzirem, na cidade, o cavalo que os sitiantes gregos deixaram na praia, às portas de Tróia.

O tema que hoje será o foco dos órgãos de comunicação social: mais do que a tomada de posse de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos da América (EUA), será a saída de Donald Trump.

Durante décadas e décadas, foi vendida a “american way of life” como se os EUA fosse o melhor dos mundos, um paraíso na terra, a referência dum regime democrático. Mas o marketing apenas evidenciava as qualidades duma vida em Hollywood, S. Francisco, Los Angeles, Miami, Nova Iorque, etc. Esqueceu-se do resto que é muito. E eu não duvido que os EUA foram a terra prometida e a salvação de muita gente que lá singrou na vida aproveitando as oportunidades que lhes proporcionaram e que, noutras paragens, lhe foi negada.

Donald Trump pessoalizou essa imagem e prometeu o que não podia, hostilizando os outros e as opiniões divergentes da sua. Mutatis mutandis, tal como Hitler divulgou um projecto onde devolveria a dignidade que os alemães tinham perdido e ainda acabaria com as penalizadoras obrigações impostas pelos vencedores da I Guerra Mundial, Trump fez um discurso de promessas fáceis e bem-sonantes: fim da imigração ilegal, aumento de salários, redução de impostos… Melodia para os ouvidos dos mais distraídos.

A invasão do Capitólio, onde funcionam os principais órgãos de democracia americana, foi a cereja em cima do bolo. Melhor: era a trampa que faltava ao seu mandato. A sua impressão digital. Pois que vá de vez, para bem longe e definitivamente.

Por cá, a campanha eleitoral presidencial quase passou ao largo. Cada vez mais, vai engrossando as fileiras dos desencantados da política. Os mais velhos porque se cansaram de ver um assalto materialista onde os ideais têm cada vez mais cifrões e outros interesses menos altruístas: servir-se antes de servir. As “cenas”, como soem dizer os mais jovens, a que vamos assistindo são, cada vez mais, uma razão para que a juventude se vá alheando dos temas políticos.

Até eu aprendi que o vírus COVID19 não tem só estirpes científico-sanitárias… Há outras nuances.

É que o comum dos cidadãos que partilhou um espaço com um contagiado deverá entrar em confinamento profiláctico por 14 dias. Trata-se da suspeita de contágio pelo COVID19 plebeius. Outros, nas mesmas circunstâncias, são liberados e não estão sujeitos ao confinamento profiláctico porque não se trata dum reles virus plebeius, mas sim COVID19 nobilis.

Enfim…

No próximo dia 24 vamos votar. Temos tempo para ponderar e escolher o projecto de qualquer uma das candidaturas ou rejeitar todas.

É um dever e um direito cívico. Mas, a História ensinou-nos que convém ler o “prospecto informativo” antes de “comprar”.

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