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Maioria dos europeus acredita que EUA já não são o polícia do mundo

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A maioria dos europeus acredita que o sistema político dos EUA está corrompido e considera que a Europa não pode confiar apenas nos norte-americanos face aos riscos do século 21, segundo um estudo internacional hoje divulgado.

Muitos europeus ficaram satisfeitos com a vitória do democrata Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, em 03 de novembro, mas a atitude sobre os Estados Unidos da América mudou radicalmente e agora consideram que a China será a mais relevante potência mundial deste século, segundo um estudo elaborado pelo Conselho Europeu sobre Relações Externas (ECFR, na sigla em inglês).

No estudo de opinião elaborado, em novembro e dezembro de 2020, em 11 países europeus (incluindo Portugal), a maioria dos inquiridos diz acreditar que Joe Biden pode ajudar a refazer as relações transatlânticas (diminuídas durante o mandato do Presidente cessante dos EUA, Donald Trump), mas aconselha Washington a não dar por garantido um alinhamento da Europa contra as posições chinesas.

A maioria dos europeus consultados por este estudo do ECFR não tem dúvidas de que a afirmação da China como a grande superpotência do século 21 relega os EUA para segundo plano e prefere que os seus países se mantenham neutrais num conflito entre estes dois países.

Apesar de a maioria dos europeus (57%) considerar que a vitória eleitoral de Joe Biden é boa para a Europa, são muitos os que não acreditam no eleitorado norte-americano, dizendo que não excluem a possibilidade de um "novo Donald Trump" voltar à Casa Branca dentro de quatro anos.

Os europeus dizem que o sistema político norte-americano foi corrompido e, na maior potência económica europeia, a Alemanha, 53% dos inquiridos disseram que, depois de Trump, os norte-americanos deixaram de ser um aliado de confiança.

Os inquiridos portugueses são os que mais desconfiança apresentam relativamente à capacidade de os Estados Unidos continuarem a representar um papel de aliado seguro, com 67% a demonstrarem essa falta de confiança de forma resoluta.

Apenas em países como a Hungria ou a Polónia, duas nações menos alinhadas com as posições políticas da União Europeia e onde Trump goza de alguma popularidade, os europeus destoam desta falta de confiança nos Estados Unidos como aliados futuros dos destinos ocidentais.

O estudo do ECFR revela que os europeus estão ligeiramente mais agradados com a figura da União Europeia, do que em anos anteriores, apesar de denunciarem que a luta contra a pandemia de covid-19 não tem tido um acompanhamento eficaz por parte das instituições comunitárias.

São sobretudo os países do sul, onde se situa Portugal, os que revelam menos satisfação em relação à União Europeia, contrastando com os países do norte (Dinamarca, Suécia, Alemanha e Holanda), bem com os da Europa Central (Polónia e Hungria), que mostram elevada confiança na solidez das instituições comunitárias.

Na maioria, os europeus são também céticos em relação à capacidade de Joe Biden resolver os problemas políticos estruturais dos Estados Unidos, com os portugueses nos primeiros lugares da lista de inquiridos com pouca confiança no futuro Governo norte-americano para voltar a colocar o país como a grande potência mundial.

Pelo contrário, a maioria dos europeus considera que a China será a grande potência do século 21, mais uma vez com os portugueses a serem os que mais confiança depositam nesse rumo de evolução geopolítica que retirará os EUA da liderança mundial.

O estudo do ECFR também revela uma alteração profunda nas divisões nacionais dentro da Europa, no que diz respeito ao posicionamento perante os Estados Unidos.

Enquanto no início deste século a opinião pública europeia se divida entre o que se definia por "velha Europa" e "nova Europa", este estudo de final de 2020 mostra uma grande convergência entre todos os países, fazendo desaparecer essas diferenças regionais no que concerne à confiança nos EUA como aliado preferencial.

Essa convergência afasta os europeus dos Estados Unidos e centra-os mais nas suas próprias estruturas, como forma de defesa perante ameaças externas, revelando que os norte-americanos estão a ser menos vistos como os polícias do mundo.

Na raiz desta questão está a desconfiança da maioria dos europeus sobre a capacidade de os Estados Unidos enfrentarem a China, nas guerras geopolíticas, mostrando que essa maioria terá mais dificuldade em aceitar a proposta que Joe Biden pretende fazer à Europa, para que seja criado um polo ocidental que face frente ao polo chinês.

Aliás, a maioria dos inquiridos (60%) disse preferir que o seu país se mantenha neutral, na eventualidade de um conflito entre os Estados Unidos e a China, com os portugueses a serem os europeus mais entusiastas dessa solução de neutralidade (67%).

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