Carta aberta a Cristiano Ronaldo - No pulmão do mundo não há oxigênio
Caro irmão, Cristiano Ronaldo, peço licença para evocar-te assim. Somos filhos do mesmo Deus, envidando semear o céu. Nossas pátrias são amigas. Tão querido és, no Brasil, outrossim, em Portugal. Sabes, todos os dias quando o sol desponta, estonteante, sobre as copas verdejantes dos buritis, o uirapuru, no seu trinado, reverbera melodioso pela Amazónia.
Mas hoje o dia enegrecera, encarvoara, face aos corações frívolos abarrotados de mordaças e de cegueira, sobretudo daquele capitão miliciano, fascista, que nem sequer diante da Covid19 e dos milhares de mortos terá se enternecido. O pássaro da felicidade, o uirapuru, então, entristecera-se. E no seu grito mudo denunciara a dor e a angústia da alma despedaçada no limo. Assim como eu. Os panelaços, em quase todo o país, soaram quebrantando a taciturnidade das pranteias em rio.
Em Manaus, no pulmão do mundo, não mais se respira. Os manauenses ou manauaras estão morrendo asfixiados. Como se não bastasse as incontáveis queimadas, oficializadas, destruindo a fauna e a flora. Os hospitais enfrentam o colapso iminente. O maior da rede pública cerrou suas portas. Não há oxigénio para socorrer pacientes internados, em estado grave, e permitir sobreviver ao malfadado vírus. Desesperança. Desumanidade. O cônsul honorário de Portugal, em Manaus, António Humberto de Matos Figueiredo, em entrevista aos mass media, mostrou-se apreensivo com a situação da comunidade portuguesa, na capital do Amazonas, devido ao impacto dramático da pandemia do Covid19, descontrolada, em um país, absurdamente, desgovernado.
O hino de Manaus revela:“Quem não luta não vence, que a luta pelo bem é que faz triunfar!” Reitero, com tua vénia, Cristiano Ronaldo, chamar-te “caro irmão”. Sei que hás de fazer triunfar, mais uma vez, por tuas ações, tantas vidas a esvaecer no abandono, terrivelmente sôfregas. Em especial, inocentes crianças. Peço que tu te movimentes e ensejes outros a colaborar para reduzir esse quadro de miséria humana maximizada pelo chefe brasileiro. Intervém, de algum modo, no pulmão do planeta, com qualquer tipo de recurso. É preciso oxigénio para respirar.
E, também, destina àquelas gentes, humildes, uma prece. Quiçá o uirapuru volva a cantar.
A nossa gratidão. Sempre.
Cristiane Lisita