Abandonados à própria sorte
Reforçou-se a linha de apoio aos infectados, prestando-lhes todo o apoio que necessitam, inclusive moral?
A constante afirmação de que tudo está controlado faz-me lembrar aquela expressão bem madeirense de que estamos a ser “enganados como os porquinhos na festa”.
O aumento dos casos era previsível. Era tão evidente que em outubro apelei a todos para redobrarem os cuidados, pois antevia a vinda de um tsunami, e, em dezembro, larguei pimenta na língua deste governo que insistia em afirmar que estava tudo controlado e não tomava atitudes para tentar estancar o aumento dos casos.
O efeito deste discurso mal ponderado de tudo controlado foi a descredibilização do governo que deveria estar a transmitir confiança e apoio moral a toda a população que tem de enfrentar uma luta pela sobrevivência duma pandemia que veio para durar e não melhorará em 2021.
Isto para não falar das consequências nefastas para a sociedade do desleixo dos ingénuos crentes do falso controlo, ou que acham que todos vão apanhar a doença e, por isso, mais vale apanhá-la duma vez, como se isto fosse o sarampo, ou a varicela.
Continuo sem perceber as razões da não testagem aos nossos estudantes. Não testar não significa a ausência da doença. A não testagem foi a estratégia que Trump seguiu quando viu o número de casos a subir nos Estados-Unidos.
Só sabe quem tem a doença quem faz o teste. O aumento da testagem expõe a real situação epidemiológica da população. Defendo, pois, a testagem generalizada a toda a população, estabelecendo um plano cronológico que bem podia começar pelas pessoas que vão sendo chamadas para consultas médicas. Só assim se saberia a real situação da doença na nossa Região. Sem dados concretos reais torna-se difícil tomar medidas adequadas.
Também ainda não percebi qual o apoio que está a ser dado às pessoas que testam positivo à COVID-19, nem àqueles que aguardam resultados. Estas pessoas precisam de sobreviver, de ter acesso à alimentação e medicamentos. Como se apoiam estas pessoas e famílias que devem fazer confinamento? Que orientações são dadas? E quem não tem família para prestar apoio? É obrigado a circular para sobreviver, contaminando outros? Passado este tempo de pandemia ainda não se pensou nisto? Os doentes COVID são lançados à sua sorte? Estão destinados a serem tratados como os leprosos no passado?
A solidão é um problema das sociedades modernas. Já existia antes da pandemia. Como sobreviverão os que vivem sós e que contraem a doença? Morrem sozinhos? Onde está a nossa humanidade?
Face ao exponencial aumento do número de casos conhecidos pergunto: reforçou-se a linha de apoio aos infectados, prestando-lhes todo o apoio que necessitam, inclusive moral?
Com a desconfiança no Governo Regional, seria de esperar que alguém percebesse que a actividade política parlamentar pode ganhar importância pelo interesse nos debates realizados na Assembleia Legislativa Regional. Até agora, os assuntos debatidos, a forma como se debate e as consequências dos debates não têm captado a atenção da população.
O povo precisa de soluções. Não é tempo de brincar à política. É tempo de “salvação regional”. Este trabalho tem de ser feito de forma profissional e com muita responsabilidade com os contributos de todos. As propostas vindas da oposição são sempre chumbadas. Serão todas elas más? É tempo de seriedade e de elevar os debates no nosso parlamento com menos “esganiçadas” e com outra atitude. É a nossa sobrevivência que está em causa.
O povo está entregue a si mesmo e começa a marimbar-se para o que o Governo Regional diz. Se este vazio não for conquistado pelo parlamento regional, pode muito bem ser conquistado por políticos mal-intencionados e perigosos para a nossa sociedade. Acordem!