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Ano Novo, Pandemia Velha

A forma mais eficaz de combate à propagação da COVID-19 é sem sombra de dúvida a restrição da livre circulação das pessoas. Desta forma, minimizam-se os ajuntamentos e evita-se o colapso dos serviços de saúde. Estas medidas são eficazes no que diz respeito à contenção da propagação do vírus, mas prejudicam fortemente a atividade económica. O equilíbrio entre a contenção da pandemia sem o estrangulamento da economia é muito difícil de conseguir, e por isso, a grande generalidade dos governos adotam estratégias muito difusas e pouco claras, que acabam por confundir as pessoas.

Regra geral, a fórmula mais utilizada pelos governos para evitar a redução da mobilidade das populações com menor impacto na penalização da economia, é através da propagação de um clima de medo e insegurança. Este clima leva as pessoas a deslocarem o juízo de medo para o juízo de realidade, criando uma noção de realidade difusa que acaba por criar mecanismos sociais e políticos extremamente perigosos. Já diz o ditado, que o medo guarda a vida, mas também cria uma intolerância à insegurança, alimentado por um desejo de segurança total que é impossível de alcançar. São exemplos de que o clima de terror e pânico já se instalou na nossa sociedade, a petição que andou a circular para que todos os alunos fossem testados antes do início das aulas do segundo período, e a hipermediatização da chegada das vacinas.

Não existe segurança absoluta. Há uma quantidade de perigos e riscos que as pessoas precisam aceitar, mas não o estão a fazer porque são bombardeadas diariamente com opiniões, recomendações e estatísticas mal-esclarecidas, envoltas num discurso que tem por único objetivo incutir o pânico e apontar culpados entre a população. Este clima de medo tem um efeito contrário ao desejado, porque para além de criar cisões na sociedade, acabam por impedir que as pessoas aprendam a conviver com o vírus.

Desde que apareceram os primeiros casos de transmissão local na Madeira, que o número de infeção por Covid-19 nunca parou de aumentar. Inicialmente, o número médio de novas infeções diárias estava a aumentar para o dobro a cada duas semanas. Mais recentemente, os novos casos de infeção aceleraram o ritmo, reduzindo para menos de uma semana a duplicação da média de novos casos diários. Este aumento já era expectável e deve-se à menor pró-actividade no ajustamento das regras e restrições para mitigar a propagação do vírus durante o período do Natal e fim-do-ano. O desajuste das medidas em vigor durante essa época visou sobretudo proteger a economia local e o cartaz de Natal e fim-do-ano, mas acabou por resultar no aumento da velocidade do número de novas infeções. A relação entre o aumento de novos casos e os impactos negativos sobre a economia é claramente negativo. A economia continua estrangulada e o número de casos continua a aumentar, ficando claro que não foi encontrado o ponto ótimo entre as restrições impostas e a minimização dos impactos negativos sobre a economia.

A dificuldade em encontrar este ponto ótimo, não pode justificar que se continue a culpabilizar a população por fazer aquilo que lhe é permitido. O discurso que pretende dividir a população entre os mais cautelosos e os mais despreocupados, cria um ambiente persecutório entre bons e maus, que é extremamente pernicioso. Para além disso, este ambiente ainda vem aumentar o sentimento de insegurança por um desejo de segurança absoluta, é agravado por uma catadupa de restrições incoerentes, confusas e claramente pouco eficazes, porque impõem medidas diferentes para situações semelhantes.

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