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Incerteza marca congresso que decide novo líder do partido conservador alemão CDU

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A União Democrata-Cristã (CDU), partido da chanceler Angela Merkel, escolhe a partir desta sexta-feira e após vários adiamentos o sucessor de Annegret Kramp-Karrenbauer na liderança do partido, com três candidatos na corrida e muita incerteza.

Espera-se que um total de 1.001 delegados vote no congresso, adiado várias vezes devido à pandemia de covid-19, cujo desfecho os analistas consultados pela agência Lusa têm dificuldade em prever.

Armin Laschet, Friedrich Merz e Norbert Röttgen são os candidatos na corrida à liderança do partido conservador, e se nenhum dos três conseguir maioria na primeira volta, os dois mais votados terão de enfrentar um segundo turno.

As sondagens indicam uma "disputa aberta", salienta o politólogo Oscar Gabriel, lembrando que o advogado e empresário de 65 anos, Friedrich Merz, aparecia como favorito no verão, tendo perdido terreno para os outros dois rivais.

"Recentemente, há muitos sinais que indicam que Laschet passou a ocupar o papel de favorito do 'establishment' do partido. À primeira vista, isto parece ser favorável para um candidato à liderança. Mas não é uma condição suficiente, e possivelmente nem sequer necessária para ser eleito líder do partido", assumiu à agência Lusa o professor emérito da Universidade de Estugarda.

Para Martin Kessler, editor de política do jornal Rheinische Post (RP), é "muito difícil prever o resultado deste congresso".

"Numa circunstância normal, eu diria que Laschet tem vantagem porque representa o centro do partido, mas depois de tanto tempo à espera desta eleição, uma surpresa também é possível", referiu em declarações à Lusa.

Armin Laschet é, desde 2017, líder do governo regional da Renânia do Norte-Vestefália, o segundo maior e o mais populoso estado federado alemão, antes governado pelo SPD. É apoiante de Angela Merkel e considerado um verdadeiro centrista.

"A surpresa seria a vitória de Merz, alguém que vem mais de fora, mas que tem bastante apoio dentro do partido, principalmente por ser bastante conservador. É mais conservador do que qualquer um dos outros candidatos, por isso pode reunir bastantes preferências. Por outro lado, a CDU vai escolher também o seu próximo chanceler, e os delegados sabem que será muito difícil ganhar as eleições legislativas com um candidato tão conservador como Merz", adiantou o jornalista.

O politólogo e sociólogo Oscar Gabriel admite que para a maioria dos delegados da CDU, o fator crucial da decisão assenta numa pergunta.

"Qual dos três candidatos terá mais possibilidades de conseguir que a CDU/CSU vença as próximas eleições legislativas, em setembro? A que se soma outra pergunta, quem terá mais sucesso em reunir uma coligação governamental estável?", questiona.

Se estes fatores prevalecerem na tomada de decisão, então o analista político não duvida que Merz "estaria na posição mais fraca".

Depois da demissão de Annegret Kramp-Karrenbauer, a escolhida de Merkel para a liderança da CDU, Norbert Röttgen foi o primeiro a assumir uma candidatura à eleição interna. O advogado, deputado e ex-ministro do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear no governo de Merkel de 2009 a 2012 é possivelmente o candidato menos conhecido dos alemães.

"Se nada pouco usual acontecer, diria que Laschet pode ganhar. Mas os líderes e delegados do partido podem também abrir-se a outros cenários. Por exemplo, o ministro da Saúde, Jens Spahn, pode decidir à última da hora que quer ser candidato, com Laschet a concordar e a retirar-se. É bastante complicado porque há muitas incertezas", assumiu Martin Kessler.

Além dos três candidatos à liderança da CDU, somam-se dois interessados no lugar de chanceler nas próximas legislativas de setembro, o que baralha ainda mais as contas. Jens Spahn, atual ministro da Saúde, e Markus Söder, líder da União Social-Cristã (CSU), partido irmão da CDU, e primeiro-ministro da Baviera.

É possível, assim, que o futuro líder da CDU não seja o candidato escolhido pelo partido para chanceler, ainda que muitos defendam que o cenário ideal implica a combinação dos dois cargos.

"Mesmo que fossem indicados e eleitos para a chancelaria, o que não é de forma alguma óbvio, precisariam de um tempo considerável para descobrir o papel desempenhado por Merkel na política alemã e mundial nos últimos anos. Construir uma liderança forte requer tempo, experiência e a confiança de outros líderes políticos", realçou Oscar Gabriel.

A escolha dos delegados será registada eletronicamente, e a segunda volta, de acordo com a lei alemã, deverá acontecer pelo correio. O congresso digital da CDU está marcado para os dias 15 e 16 de janeiro.

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