A 16 de julho de 1924, o Funchal vivia em pleno os loucos anos 1920, entre tiroteios na Avenida Arriaga e a animada estreia da Carmen de Charlot, no Cine-Jardim. Neste dia nascia, no vetusto casarão paterno da rua do Torreão, Maria do Carmo Pimenta Leite Monteiro, filha do médico António Leite Monteiro, da ilustre cepa dos Leite Monteiro, no Funchal há três gerações, e dos intrépidos Themudos, ambas de origem minhota - e com uma avó de São Roque pelo meio - e de Maria de França Dória Pimenta, com raízes nos Canhas e na Ribeira da Janela, da geração de Franças Dórias que por ali andava desde o século XVIII.
Era para se chamar Eugénia, como a avó paterna, mas acabou por ser Maria do Carmo, por determinação do avô, por ter nascido no dia de Nossa Senhora do Carmo. A infância passou-a entre a cidade, e o Monte, onde o avô tinha uma casa de férias, e para onde subiam no velho comboio.
Desde criança que Maria do Carmo escrevia e encenava representações teatrais, levadas à cena no seio familiar, juntamente com outras amigas de infância. Em 1941, aos 17 anos, sendo aluna do Liceu Nacional do Funchal, escreve uma redação que impressionou de tal modo Feliciano Soares, então seu professor, e futuro diretor do Diário de Notícias, e marido da também escritora, Laura Veridiana de Castro então seu professor, que este a fez publicar no suplemento especial de Natal d’O Jornal. Não querendo publicá-la com o seu próprio nome, por recato, Maria do Carmo escolheu o pseudónimo Suzana Pobre, que passaria a usar regularmente até ao seu casamento com o médico José Manuel da Silva Rodrigues, após o que passou a usar o nome de casada, Maria do Carmo Rodrigues.
Colaborou no suplemento infantil do Comércio do Porto. Em 1964 publica o seu primeiro livro, “Dona Trabucha, a Costureira Bucha”, respondendo a um desafio de Cabral do Nascimento, com um enredo defendendo a igualdade e a tolerância para com quem é diferente. Entre 1969 e 1971, dirigiu o jornal infantil “a Canoa”, inicialmente criado pela jornalista Maria Mendonça como suplemento do periódico Eco do Funchal, no qual participou também, pontualmente, a pedagoga Margarida Morna. Entre 1968 e 1972, instalou e dirigiu a representação no Funchal da Cooperativa Ludos, o primeiro Atelier de Tempos Livres da Madeira, com cerca de 80 crianças.
Além da carreira literária, Maria do Carmo Rodrigues teve um papel ativo na promoção de serviços sociais com vista ao apoio às crianças, juventude e idosos. Foi sócia fundadora do Comité Português para a Unicef e do IAC – Instituto de Apoio à Criança - e da Associação Crianças Sem fronteiras. De 1974 a 1977, foi presidente da Comissão Distrital de Assistência do Funchal. Sob este cargo, desenvolveu a creche e o jardim de infância da instituição Auxílio Maternal, instalando um lar para idosos na Quinta do Vale Formoso, adaptando ainda o Hospício da Princesa Dona Amélia a Lar de idosos.
A 15 de março de 1977 foi nomeada pelo ministro da justiça, Dr. Almeida Santos, diretora do Centro Polivalente do Funchal, sendo transferida a 23 de março de 1979, para a Direção Geral dos Serviços Tutelares de Menores como técnica de 3.ª em Lisboa, tendo aí vindo a fixar residência. Foi agraciada com a Medalha de Mérito Cultural em 1992, aposentando-se no ano seguinte, sendo ainda distinguida em 2011 pela Academia Brasileira de Letras.
Continuou a escrever, já visando a utilização para fins pedagógicos e literários das então nascentes redes sociais, vindo a falecer subitamente aos 89 anos, nos Prazeres, onde tinha uma residência de férias, a 5 de maio de 2014. Apenas alguns dias antes havia participado no programa da RTP-Madeira “Uma Vida, Uma História”, a si dedicado, deixando expressa a vontade do seu legado ser recordado, após a sua morte, como uma Dádiva de Luz.