À procura do Ventura!
O aparecimento de André Ventura no palco político português, sobretudo após a eleição de dois deputados do seu partido nas eleições regionais dos Açores, tem causado um enorme desassossego nas hostes esquerdistas (e não só) do País.
Inclusive, em alguns debates televisivos para as “presidenciais”, ficamos na dúvida se o que estava em causa era a Presidência da República ou o ficar à frente do líder do CHEGA.
Curiosamente, em nossa modesta opinião, este pavor instalado à mesa do PODER e dos que temem de que as suas “mordomias, privilégios e total bem-estar democráticos” possam correr perigo, não tem razão de existir.
Exatamente porque não é este VENTURA nem este seu partido de que Portugal precisa, face a algumas posições radicais assumidas.
O “VENTURA” que pode espalhar o pânico entre os “intranquilos de espírito” será aquele que dirá que o combate a um “regresso ao passado” não SÓ se faz atacando os que possam aparecer com ideais suspeitos, que tenham palavras ou atos desapropriados, mas também COMBATENDO as práticas “desse passado” existentes nesta democracia.
O “VENTURA” de que este País desde há muito reclama é aquele que separe os políticos de boa-fé, daqueles paladinos da Liberdade e da Democracia que se introduziram na Assembleia da República e nas Regionais para “defenderem o povo” até “ fazerem” anos de deputados que lhes permitisse usufruir de reformas avantajadas.
E os que ainda lá estão, há dezenas de anos, à espera de “caírem da cadeira”, não para morrerem (como Salazar) mas, supomos, para viverem e se reformarem principescamente.
Um “VENTURA” que ponha a andar os processos judiciais que parecem esperar a sua caducidade.
Que exija responsabilidades a quem movimente dinheiros públicos.
Que denuncie as desigualdades sociais.
Que investigue se os condenados por roubos, crimes graves e variados, vivem melhor nas cadeias do que os cidadãos honrados em suas casas ou no seu dia-a-dia.
Que entenda que não é permitindo a leviandade que se defende a LIBERDADE.
Que combata (a sério) a corrupção que mina e destrói os alicerces do País.
Que não se vanglorie com o aumento de milionários no País, sabendo da existência cada vez maior de pobres em Portugal, como chegamos a ouvir ANTES da pandemia.
Que faça entender a certos senhores que servir o País é um ATO NOBRE que tem de ser pago, evidentemente, mas que nunca poderá ser um meio de enriquecer facilmente ou desfrutar de privilégios e regalias sociais desmensurados, com direito a reformas milionárias.
Que lute por uma sociedade mais equilibrada, onde os cidadãos sejam avaliados pelo que são, pela sua competência e integridade e não pela cor da bandeira partidária.
Quando aparecer este “VENTURA” e o seu partido, (não, nestas eleições) dispostos a lutar por estas e outras regras e ideais, aí sim, será instalada a democracia prometida em Abril de 74 e o desassossego de muitos senhores e senhoras já tem razão de ser.
Quando assim for, os medíocres, os arrogantes e os oportunistas vão ter mais dificuldade em se instalar e prosperar neste País.
Talvez estejamos a sonhar, mas há sonhos que, por vezes, se tornam realidade.
Vamos aguardar com fé e esperança.
Juvenal Pereira