Carta aberta à Ministra da Saúde
Exma. Sra. Ministra da Saúde, Doutora Marta Temido. Em primeiro lugar, deixe-me louvar a coragem com que tem assumido aquela que se revelou ser a pasta mais difícil de gerir de todo o governo e de todos os tempos.
O principal motivo que me leva a escrever-lhe é para lhe dar conhecimento do funcionamento de um serviço de saúde, mas na perspetiva do utente. Na passada quinta-feira, dirigi-me ao centro de saúde das Águas Livres, na Buraca, com a minha filha para ela tomar a segunda dose da vacina do colo do útero.
Durante alguns dias, em horas diferentes, a minha mulher tentou por várias vezes telefonar para confirmar que o horário de vacinação se mantinha o mesmo do verão passado (isto porque o site nunca o diz!), porém nunca lhe atenderam a chamada, pelo que resolvemos arriscar que seria o mesmo. Que azar! Tive de sair mais cedo da Escola (sou professor) para chegarmos cedo e garantir vaga (não há marcações), quando afinal o atendimento só começava às 17h30, hora a que anteriormente terminava.
Bem, lá voltámos então no horário correto. Entrámos, expliquei ao que vinha, o funcionário deu-me uma senha e mandou-me para a sala de espera aguardar que chamassem o meu número. Uma sala vazia, um centro vazio, em que estivemos 50 minutos na sala de espera. Ao fim deste tempo, dirigi-me ao atendimento, questionando do motivo da demora, uma vez que o centro estava vazio. Fui mal recebido pelo funcionário que me questionava se eu era da USCP ou da USF, ao que respondi prontamente que desconhecia o significado destas siglas e que me era indiferente porque eu estava no centro de saúde. Respondeu-me que isso não era indiferente porque se eu pertencesse a uma, ela tinha fechado às 18h, mas, se pertencesse à outra, ela só fechava às 20h. Lá disse que só queria vacinar a minha filha e um outro administrativo, muito prontamente, recolheu o meu boletim de vacinas e deu início ao processo, enquanto o colega protestava com o funcionário da entrada que havia distribuído a senha e lhe ensinava os procedimentos e as restrições da tal USF e da USCP.
A senhora Ministra inaugurou recentemente as novas instalações deste serviço de saúde que são francamente boas e seguramente que os profissionais de saúde também o são, mas há de concordar comigo que, num período em que temos os hospitais à beira da rutura, ter um centro de saúde vazio e a funcionar desta maneira é um desperdício de recursos físicos e humanos. Não o posso afirmar com toda a certeza, mas tenho a forte convicção de que não será caso único no país e isso leva-me a perguntar-lhe: que segurança nos dá este exemplo de que os centros de saúde serão capazes de aplicar corretamente o plano de vacinação contra a Covid?
Por fim, deixo-lhe uma sugestão: de vez em quando, faça uma visita surpresa a uma unidade de saúde e veja in loco como ela funciona.
Nuno Filipe dos Santos