Novas realidades
Vou esperar sentado, como todos aqueles que foram prejudicados pelos temporais
As chamadas alterações climáticas estão aí, com Invernos mais rigorosos e Verões mais quentes. A esta realidade temos que juntar outras questões, como a construção de túneis sem serem tomados os devidos cuidados, como, por exemplo, a quantidade de explosivos utilizados em cada explosão e a drenagem, ou águas pluviais de todas as estradas.
Os nossos antepassados construíram as veredas, caminhos e “poios” de acordo com os ribeiros que existiam na altura, que ficaram com os seus leitos para receberem as água pluviais, Eram, como se deduz do seu nome, veredas estreitas, não impermeabilizadas, com largura suficiente para receber a águas que depois eram encaminhadas para os ribeiros ou mesmo ribeiras.
No dia vinte e cinco de Dezembro de 2020, em especial na Boaventura e Ponta Delgada, caíram uns bons litros de chuva por metro quadrado e se analisarmos bem o que aconteceu a essa água, perceberemos bem o que se passou nesse dia de Natal. Começaremos da Boaventura para cá. Na Antiga Estrada Regional 101 em Boaventura entre a Igreja e o novo túnel da via Expresso, essa água da chuva caíram numa estrada asfaltada, logo impermeável, mais as águas que vinham de uma outra estrada, Municipal, da Lombadinha, desde o sitio onde está uma antena da televisão até ao cruzamento com a Antiga Estrada Regional, atrás referida, sem que houvesse uma vala que conduzisse essas águas até à ribeira do Porco que passa aí muito perto.
Toda essa água foi recebida na nova Rotunda que a conduziu para o túnel que seguia para a Ponta Delgada, por estar mais alta que o próprio túnel, que por sua vez foi recebida na rotunda da Ponta Delgada e a encaminhou para as zonas mais baixas da referida freguesia. Por outro lado a estrada que vai para as Lombadas da Ponta Delgada, recebeu também a sua quota parte da água da chuva que se juntou à da dita Lombadinha (uma parte correu para a Boaventura e outra parte para a Ponda Delgada) que veio por aí a baixo à procura do mar, passando antes pelo cemitério, que o profanou. De salientar que existe uma ribeira que corre para os lados da piscina que poderia receber grande parte dessas águas, antes de chegar à rotunda.
A segunda questão que falamos no início, já foi diversas vezes questionada e nunca respondida pelo Governo Regional. As empresas construtoras dos túneis foram pressionadas pelo poder político, para respeitar a data prevista para a inauguração, perto de um ato eleitoral e tiveram que usar quantidades gigantescas, de dinamite, por cada explosão, vulgo broca, para andar mais depressa. Eram de tal maneira violentas, que víamos saírem verdadeiras línguas de fogo pela parte já aberta, que provocavam a deslocação das moléculas das pedras, “aluindo” toda a montanha. Apareceram novos ribeiros, que tinham começo, mas não tem fim, acabando alguns deles em estradas ou veredas que nem sempre tinham capacidade para receber tanta água. Na zona das Lombada, houve vários bocados da estrada que simplesmente caíram porque essa estrada ficou por cima dos túneis. Se em vez de provocarem uma explosão, provocassem cinco ou seis, talvez esses aluimentos não teriam acontecido.
No túneis entre São Vicente e Boaventura também não houve cuidado nenhum com as águas pluviais. As rotundas que os antecedem estão mais altas que as estradas que formariam poças no seu interior, não fossem as escapatórias servirem de valas de drenagem. As entradas dos túneis deveriam ser antecedidas por valas de drenagem ou então ficarem mais altas de modo que as águas não entrassem para o seu interior.
Esses túneis deveriam ter o pavimento mais alto que as entradas/saídas e estar pelo menos meio metro acima da entrada. Não sei se o defeito se é de projeto ou de construção e/ou da fiscalização, que como se sabe fecha os olhos a muita coisa, mas se fizermos este percurso, apercebemo-nos facilmente aos altos e baixos da estrada. Por exemplo a escapatória da Fajã da Areia, foi uma autêntica vala de drenagem, que acabava na Antiga Estrada Regional 101.
No dia sete de Janeiro, dia do Natal Ortodoxo, calhou na rifa o Seixal, com quantidades anormais de chuvas, provocando derrocadas em vários sítios, nomeadamente Portal/ Quinhão do meio, Poio do Arco e Lanço, que interrompeu tanto a Via Expresso são Vicente /Porto Moniz, como a Antiga Estrada Regional que dá entrada para o Seixal. Desta vez fui contemplado com essas rifas nos três locais a que fiz referência. Não tive culpa em nenhum dos casos porque são terrenos que lá estão desde sempre, com as mesmas veredas, só que as montanhas que cercam esses terrenos estão aluídas e já em dois mil e doze provocaram muitos estragos que o Governo Regional prometeu ajudar os agricultores e até hoje ninguém recebeu um tostão que fosse.
Outras zonas também foram fustigadas, pelos referidos temporais, principalmente do Concelho do Porto Moniz e alguma coisa em São Vicente, além de Boaventura e Ponta Delgada, mas falo daquelas que conheço melhor.
Será que desta vez vai acontecer o mesmo? É o que dizemos e provamos há muito tempo: O Governo Regional, da mesma cor desde que a Autonomia ficou consagrada na Constituição, desde Outubro de 1976, nunca esteve do lado do agricultor, dando uns rebuçados, apenas nos anos em que há eleições. Vou esperar sentado, como todos aqueles que foram prejudicados pelos temporais recentes.