Maldito Adamastor

Mobilizado em 1968 para Timor, fiz o meu baptismo náutico a bordo do navio Índia numa viagem de cerca de cinquenta dias já que o canal do Suez se encontrava encerrado. Com a adrenalina dos 22 anos em alta e lembrando-me do Canto V dos Lusíadas da epopeia portuguesa como o gigante do Cabo das Tormentas, que afundava as naus, estava ansioso por dobrar tal longínquo local. Lá chegado, com o barco navegando no mar “chão” a passagem do Atlântico para o Índico foi bem mais suave que a saída da barra no Tejo. Mas o pior estava reservado para logo após a partida de Lourenço Marques ( hoje Maputo), o mar ter virado “cão” pois fomos apanhados pela cauda de um tufão e só graças à perícia e profissionalismo do comandante e toda a sua tripulação conseguimos escapar com vida e seguir viagem sãos e salvos para aquela longínqua ilha onde a bandeira portuguesa era tão amada, respeitada e idolatrada pelo bom povo timorense como jamais vi na minha vida.

Virada a página para actualidade, também hoje Portugal tem pela frente um tufão que bem precisava de alguém competente para levar de vencida o “mar cão” a que estamos condenados. Todavia, e por aquilo a que temos assistido, mesmo perante as pequenas ventanias que nos têm assolado, este comandante tem dado provas que é muito hábil apenas quando navega com o “mar chão”. Portugal precisava com a maior urgência de ter à sua frente um estadista e não um profissional da política que se preocupa em formar um governo grande em vez de um Grande Governo. Um estadista que através do Cabo da Boa Esperança nos faça chegar a um bom porto.

Hoje, sem a adrenalina dos 22 anos, sinto-me horrorizado como Bocage no seu soneto “Adamastor cruel! de teus furores” e que termina assim . . ./ Bem te vingaste em nós do afouto Gama! / Pelos nossos desastres és famoso: / Maldito Adamastor! Maldita fama!

Jorge Morais

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