Uma piscina na cobertura
E para quê uma piscina na cobertura se, no jardim, debruçada sobre a falésia, está a mais bela piscina do Funchal?
Não existe, para muitos, programa de viagem mais aliciante do que aquele que inclui a estadia num hotel que se distingue pela singularidade da sua arquitectura. É por isso que sou cliente, há muitos anos, dos hotéis do Grupo Pestana. O grupo gere hoje, no nosso país e no estrangeiro, um parque hoteleiro que incorpora edifícios de extraordinário valor patrimonial. Dele fazem parte, aliás, as antigas Pousadas de Portugal, unidades hoteleiras projectadas ou restauradas por alguns dos mais notáveis arquitectos do nosso país - verdadeiros monumentos que, por si só, valeriam a viagem. Mas o contributo deste grupo para a preservação e divulgação do nosso património construído não fica por aqui: ele é um dos financiadores de um trabalho de investigação e divulgação importante para a Região. Trata-se de um livro, do qual sou coautor com o Professor José Manuel Fernandes, que virá a lume no mês que vem, e que tem por título “Madeira e Porto Santo, Cidades, Território e Arquitecturas”.
Vem isto a propósito da notícia que li neste diário dando conta do embargo decretado pela Câmara Municipal do Funchal à obra de construção de uma piscina na cobertura do Casino Park Hotel. Este hotel, como é do conhecimento comum, é a mais icónica unidade do Grupo Pestana na Região. Que ele seja “a mais notável obra de arquitectura e engenharia da Madeira do século XX “ – como já escrevi nas páginas deste diário – é discutível. O que me parece indiscutível é o facto de ser uma obra maior dos arquitectos Oscar Niemeyer e Viana de Lima, a única que o consagrado arquitecto brasileiro deixou em solo português. Isso não é motivo para que a sua arquitectura não possa ser objecto de transformações (nada mais disparatado do que mumificar um edifício vivo, lucrativo e útil). Eu diria, contudo, que numa construção cuja coerência plástica depende da depurada geometria da sua estrutura, que tem a elegância do gesto delicado e maleável que a faz pairar sobre o jardim, me parece errado carregar-lhe a cobertura com uma piscina.
E para quê uma piscina na cobertura se, no jardim, debruçada sobre a falésia, está a mais bela piscina do Funchal? Na edição de 17 Junho de 2017 deste diário era possível ler a seguinte notícia: “a Trivago preparou a derradeira selecção das mais incríveis piscinas de hotéis nacionais”, a piscina infinita do Pestana Casino Park Hotel é recomendada por ter “fantásticas vistas para os famosos jardins da Madeira, onde se avista também o mar, as montanhas e a natureza – que inspiraram Niemeyer a desenhar este hotel que fica certamente na memória de quem o visita”. Eu não teria escrito melhor, mas se, ainda assim, for intenção da gestão do hotel construir a piscina na cobertura, recomendo que consultem, para o efeito, o arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, galardoado em 2006 com o Pritzker – a piscina que ele projectou para a cobertura do Sesc 24 de Maio é uma intervenção discreta e bem sucedida que requalificou um edifício no centro da cidade de São Paulo.