Investir, Acreditar e Mudar
O fundamental nos próximos anos será desenvolver pessoas, não profissionais
A capacidade de fazer mudanças advém de diversos fatores aleatórios. As mudanças não são fáceis e obrigam a fazer escolhas. Escolhas que se revelam verdadeiros investimentos. Quando alguém faz um depósito a prazo, sabe que aquele dinheiro ficará inamovível por algum tempo. Tempo esse em que as contas continuam a cair mês após mês, em que poderá existir uma avaria num carro que obrigue a um gasto adicional no orçamento familiar, à necessidade de um investimento em função do nascimento de um filho/neto que venha a caminho. Quando poupa algum dinheiro nessas condições a ideia é que o mesmo não faz tanta falta, quando comparado com a sua utilidade futura.
A ideia de investimento tem, por inerência, uma ideia de ganhos futuros. Sejam eles na aquisição de alguma coisa, no arranjo de algo ou, simplesmente, numa lógica de poupança para que se viva um futuro com menos preocupações. Todos os empreendimentos da nossa vida, em diferentes fases, obrigam a isso. A vida raramente nos permite vencer em todos os campos sem assumirmos que alguns deles ficam prejudicados em função de um ganho futuro naqueles em que investimos. A própria ideia de recompensa é exatamente isso. Eu tenho um sacrifício no presente que é, no mínimo, inversamente proporcional ao ganho que terei no amanhã.
Nesse sentido, olhando para a conjuntura do mundo, compreendemos que este é um tempo de investimentos. Investimentos que podem acarretar riscos, claro. É este sentimento que fundamenta uma das principais razões de termos em 2020, durante um período de pandemia mundial, o maior número de candidatos ao Ensino Superior Público em Portugal dos últimos 25 anos. Os jovens- e bem- perceberam que a diferenciação dos seus currículos pode ser vital num mundo que viverá uma crise de ajustamento entre a oferta e a procura, em função do confinamento da atividade económica mundial.
No entanto, a diferenciação dos currículos por si só de pouco vale. Apenas faz deles pessoas mais preparadas. Contudo existe aqui um espaço para o desenvolvimento das chamadas soft skills que continuam a não ser valorizadas de forma direta. O fundamental nos próximos anos será desenvolver pessoas, não profissionais. A massificação do Ensino permitirá que todos os técnicos partam da mesma base. Diferenciar-se-á aquele que souber tanto de máquinas como de pessoas.
O Ensino Público, sobretudo o universitário e o profissional, carece de alterar o seu método de recrutamento para redimensionar o estilo de profissional que forma e que entregará ao mercado. Um aluno que entre na Faculdade de Medicina com média de 17/18 será pior do que um que entrou na mesma faculdade com média de 19/20?
O essencial passa por ter pessoas, qualificadas ou não, que sejam capazes de fazer o tal investimento que há pouco referia. Sem essa capacidade, as diversas entidades da sociedade civil perdem o seu traço distintivo. Sejam elas públicas, privadas administrativas ou políticas. Para se evoluir é preciso decidir. É preciso que quem tenha o poder de facto o exerça, sob pena de o Mundo mudar muito mais do que a passagem do 4 para o 5 G. Não é preciso ganhar todas as batalhas, é preciso ganhar as guerras quando estas existam. Estamos a formar líderes para isso?