Liberty Bell
Citando o poeta John Donne: “nunca perguntes por quem os sinos dobram; dobram por ti”
O “Sino da Liberdade” é um dos grandes símbolos do nacionalismo e da liberdade, que tem estado sempre presente na cultura americana. Foi fundido em 1752, em Londres, curiosamente na mesma fundição do não menos famoso Big Ben, embora este um século mais tarde.
Originalmente chamado Old State House Bell , foi instalado em Filadélfia e tocou convocando os cidadãos em 1774, para a abertura do primeiro Congresso Continental, e em 1776 para a leitura da Declaração de Independência. A partir daí tocou sempre nas grandes ocasiões da vida pública dos Estados Unidos da América, ficando depois ligado à causa abolicionista, pelo que ganhou o atual nome de Liberty Bell. O lado mítico do sino ficou bem demonstrado na escolha do nome de uma nave espacial americana, batizada como Liberty Bell. O voo decorreu bem, mas houve problemas na amaragem, tendo-se a nave afundado e permanecido no fundo do mar entre 1961 e 1999.
Segundo o sistema eleitoral americano, a eleição do Presidente faz-se de forma indireta., através de um Colégio Eleitoral, composto por um conjunto de 538 “grandes eleitores”, escolhidos em cada Estado pelos “pequenos eleitores”, que são os cidadãos comuns. O número varia em função da população de cada estado, dando assim mais peso aos estados mais populosos na eleição do Presidente.
É o caso da Pensilvânia, com 20 “grandes eleitores”, o que a torna num importante palco de confronto entre os candidatos. A Pensilvânia votou Trump em 2016, e o Congresso Estadual tem maioria republicana. Entretanto, surgiram rumores sobre eventual desrespeito pelos resultados eleitorais, se fossem desfavoráveis ao atual Presidente.
O Supremo Tribunal dos Estados Unidos decidiu, por unanimidade, considerar constitucionais as leis que penalizam ou substituem os eleitores do Colégio Eleitoral que não escolham o candidato presidencial mais votado no seu Estado.
Qualquer tentativa no sentido de se substituir à votação não teria, portanto, legitimidade.
Restaria a desobediência e o confronto, como sucedeu na Guerra Civil Americana. Tão improvável foi, no seu tempo, como o que agora se apresenta.
Só que os tempos mudaram, e dificilmente se concebe a desobediência das tropas federais, ou mesmo da Guarda Nacional dos Estados; já quanto às “milícias não organizadas” dos Estados e às diversas polícias locais, podem existir dúvidas.
Torna-se estranho ter-se levantado esta questão na terra do Liberty Bell. Irá ele afundar-se, como a nave espacial homónima? E o que mais se afundaria?
Pelo que recordamos outros sinos, os que Ernest Hemingway referiu, no seu romance Por quem os sinos dobram, citando o poeta John Donne: “nunca perguntes por quem os sinos dobram; dobram por ti”.