Investigadores detectam planeta com temperaturas altas
As altas temperaturas são equiparadas a uma pequena estrela
Uma equipa de investigadores que inclui elementos do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) detetou um planeta fora do sistema solar (exoplaneta) dos mais extremos até hoje descobertos, com temperaturas de quase 3.200º Celsius.
A descoberta, publicada na revista "Astronomy & Astrophysics", faz parte dos primeiros resultados do telescópio espacial CHEOPS, lançado no ano passado pela Agência Espacial Europeia (ESA).
De acordo com informação divulgada hoje em comunicado pelo IA, o planeta, chamado WASP-189b, está 20 vezes mais próximo da sua estrela do que a Terra está do Sol e completa uma órbita em apenas 2,7 dias.
Os investigadores colocaram-no na categoria de "Júpiter Quente", um tipo de exoplaneta com uma massa semelhante à de Júpiter mas com uma órbita muito próxima da sua estrela que dura menos de 10 dias. Mercúrio demora 88 dias a completar a orbita em torno do Sol.
O planeta terá cerca de 1,6 vezes o diâmetro de Júpiter.
"Graças à enorme precisão do CHEOPS, conseguimos medir a luz emitida pelo lado diurno deste exoplaneta. Isto deu-nos alguns dados acerca das condições da atmosfera deste planeta tão exótico. A sua temperatura de cerca de 3.160º C torna-o tão quente como uma estrela de pequena massa", explicou, citado no comunicado, Olivier Demangeon, um dos investigadores do IA envolvido na descoberta.
Susana Barros, também do IA, disse que a estrela-mãe é uma estrela azul e que é maior e quase dois mil graus mais quente do que o Sol. Tem ainda a particularidade, acrescentou, de rodar tão depressa que é deformada, sendo alongada no equador e achatada nos polos, o que faz com estes sejam mais quentes e brilhantes do que o equador.
O satélite CHEOPS (Characterising Exoplanet Satellite, ou satélite de caracterização de exoplanetas) foi desenhado para observar estrelas próximas, à volta das quais já se sabe existirem exoplanetas.
Os investigadores citados no comunicado admitem que o WASP-189b se terá formado mais longe da estrela e que mais tarde sofreu distúrbios gravitacionais de outros planetas ou até de uma estrela de passagem, que lhe inclinaram a orbita e o empurraram para muito perto da estrela.
O consórcio do CHEOPS é liderado pela Suíça e pela ESA e tem a participação de 11 países europeus, um deles Portugal.
"A participação do IA no consórcio do CHEOPS faz parte de uma estratégia mais abrangente para promover a investigação em exoplanetas em Portugal, através da construção, desenvolvimento e definição científica de vários instrumentos e missões espaciais, como o CHEOPS ou o espectrógrafo ESPRESSO, já em funcionamento no Observatório do Paranal (ESO)", no Chile, diz-se no comunicado, explicando-se que a o investimento nesta área vai continuar nos próximos anos.
Espera-se que também nos próximos anos o CHEOPS observe centenas de exoplanetas conhecidos e detete novos exoplanetas e até exoluas, bem como investigue a composição interna e atmosfera de exoplanetas.
O IA integra investigadores da Universidade de Lisboa e da Universidade do Porto.