“Primum non nocere”
“Em primeiro lugar, não causar danos”. A expressão latina, atribuída a Thomas Sydenham (1624–1689) traduz um dos princípios consagrados por Hipócrates (460-377 a.C.) no seu escrito (”Epidemicos I”, página 11, em grego antigo: ἀσκέειν, περὶ τὰ νουσήματα, δύο, ὠφελέειν, ἢ μὴ βλάπτειν) que deu origem ao conhecido “Juramento de Hipócrates”, tradicionalmente feito por médicos e outros profissionais de saúde, no início da vida profissional.
A pandemia COVID-19 obrigou governantes e autoridades de saúde, em todo o mundo, a tomarem medidas gravosas de prevenção na perspectiva da pandemia, causada por um vírus do qual se conhecia pouco ou nada, poder causar a ruptura dos serviços de saúde e inúmeras mortes.
As medidas tomadas, que variaram de intensidade de país para país, não podiam ser cientificamente suportadas por se tratar de um vírus (SARS-CoV2) desconhecido, embora da família dos coronavírus estudados há muitos anos.
Passaram-se mais de 10 meses. Apesar das teorias da conspiração, das “fake news”, das notícias pouco ou mal fundamentadas, das contradições mesmo entre especialistas, dos relatórios e artigos publicados (alguns deles em revistas de grande credibilidade científica) que dizem tudo e o seu contrário, das frequentemente contestadas medidas e instruções emanadas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de centros de investigação altamente considerados, já é possível fazer uma avaliação cronológica da actividade do vírus e da gravidade da doença.
Já há dados objectivos, recolhidos em todo o mundo, que permitem uma avaliação estatística e epidemiológica da doença, até ao presente.
Felizmente para todos nós, a mortalidade esperada não se verificou, nem de perto nem de longe. Estudos recentes, situam a letalidade Covid-19 à volta de 0,1 a 0,5%, na maioria dos países (Infection Fatality Ratio – IFR). A capacidade do vírus se propagar é relativamente modesta, comparada com outros vírus com que nos habituámos a conviver. Os serviços de saúde, mesmo os de países menos preparados, não sofreram as rupturas que se supunha acontecer. O rácio doentes portadores do vírus versus doentes com a doença expressa, é baixo.
Em contrapartida, o efeito que as medidas tomadas produziram na saúde mental e relacional, no agravamento das situações clínicas de doentes crónicos e de outras patologias não-covid, nas listas de espera cirúrgicas, para consultas e exames e, acima de tudo, na economia estão a ser incomportáveis e muito dificilmente recuperáveis no curto/médio tempo.
Não nos esqueçamos que a OMS, há muitos anos, define Saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
Para os crentes no aparecimento rápido de uma vacina, recente desilusão (danos neurológicos) pode fazer baixar à terra quem acredita que a vacina será a solução do problema. Não há memória da produção de uma vacina eficaz e sem contraindicações significativas, num intervalo de tempo inferior a 2 anos (a média é de 10 anos).
Países (poucos), como a Suécia, que assumiram posições divergentes da maioria e foram quase universalmente criticados, estão, agora, numa situação geral bastante mais vantajosa. Às vezes, assumir riscos traz vantagens…
Talvez seja o momento de quem tem o poder (governantes, autoridades de saúde) começar a dar ouvidos aos especialistas sérios, de diversos países, que preconizam uma alteração das estratégias que têm sido seguidas até ao momento. Tenhamos em conta que mais de 95% dos infectados são assintomáticos.
É necessário mais e melhor (mais direccionado) investimento na saúde. Em especial, em medidas preventivas das doenças e promotoras da saúde. Melhor literacia na saúde.
Também é obvio que não defendo o abrandamento das medidas de protecção em lares, em locais onde se encontrem muitas pessoas simultaneamente ou em doentes com idade avançada e/ou comorbilidades.
Creio que a sequência de infecções virais anuais irá manter-se: “rhinovirus”, “Influenza” A e B e “Coronavirus”, sendo provável que o SARS-Cov2 se mantenha no futuro.