Floristas do Funchal recebem Medalha de Mérito Turístico municipal
As floristas do Funchal correm mundo em fotografias e vídeos, com os seus trajes típicos da Madeira, entre estrelícias, antúrios, próteas e outras flores e, por esse desempenho, hoje vão receber a Medalha de Mérito Turístico municipal.
"Acho uma homenagem justa, porque nós representamos qualquer coisa da Madeira", disse à agência Lusa Ilda Silveira, uma das 14 floristas da capital madeirense, com banca no Mercado dos Lavradores, no centro da cidade.
A Câmara Municipal do Funchal considera-as "embaixadoras do colorido" e prova viva do slogan "Madeira Ilha da Eterna Primavera", razão pela qual decidiu atribuir a distinção, no âmbito do Dia Mundial do Turismo, que se assinala no domingo.
"É uma coisa bonita e bem merecida para todas. Lutamos muito e passamos aqui a vida para o turista nos tirar fotografias. É dar o valor e a gente fica satisfeita com isso", afirmou, por seu lado, Cecília Rodrigues, a florista mais antiga, também com banca no Mercado dos Lavradores.
Natural de Câmara de Lobos, a oeste do Funchal, onde nasceu há 60 anos, Cecília Rodrigues vende flores no mercado desde 1971, quando tinha apenas 11 anos.
"Como era pequenina, muito magrinha, de cabelos compridos, os estrangeiros todos gostavam de tirar fotografias comigo", conta, lembrando que, naquela época, era raro o turista que não levava uma flor para o hotel, ao contrário do que acontece hoje, sobretudo agora, com a pandemia.
A florista diz, no entanto, que a crise começou muito antes da covid-19, quando o transporte de flores a bordo dos aviões passou a ser pago.
"Se um estrangeiro compra uma caixa com dez estrelícias, são cinco euros, a embalagem são dois, faz sete, e depois, no aeroporto, para levar essa caixa, tem de pagar 30 euros", explica, vincando que esta circunstância fez "baixar bastante" o negócio.
Na banca em frente, Lígia Gonçalves, 63 anos, florista há 24, também se queixa de "problemas no negócio" por causa da quebra no turismo provocada pela covid-19.
"Não é fácil. Temos de saber gerir muito bem, para não ficarmos sufocados", disse, reforçando que as flores, em si, não são um produto caro: "Estes raminhos de beladona a 1 euro, a estrelícia a 50 cêntimos, os antúrios consoante o tamanho, 1 euro, 1 euro e meio. Acho que é um preço acessível."
Por outro lado, Ilda Silveira, que tem 57 anos e exerce a atividade há 37, estabelece dois momentos que marcaram o setor pela negativa: o atual, devido à covid-19, e os ataques terroristas nos Estados Unidos, a 11 de setembro de 2001.
"A partir daí, não havendo possibilidade de as pessoas levarem flores no avião, o nosso trabalho complicou-se um bocadinho", disse. E reforçou: "Agora, com a pandemia, não sei se há palavras? Acho que ninguém encontra as palavras certas."
Estas três floristas mostram-se, no entanto, expectantes com a retoma gradual do turismo na Região Autónoma da Madeira e também destacam a importância dos clientes regionais.
"Agradeço aos meus clientes da Madeira, eu agora vivo do cliente madeirense", disse Cecília Rodrigues, realçando: "Continuam a vir, mas já não compraram o que compravam. Tenho aqui umas senhoras que antes levavam 20 euros de flores ao fim de semana, agora levam um raminho de cinco euros."
E também há clientes estrangeiros que nunca deixaram de vir.
"Neste momento, está cá um casal, já são meus clientes há trinta anos, são da Bélgica. Hoje levaram sete antúrios e disseram que iam ficar quatro semanas, porque a Madeira é segura, foi o que disseram", contou.
As floristas do Mercado dos Lavradores, na maioria originárias da Camacha, freguesia do interior do concelho de Santa Cruz, zona leste da Madeira, vendem flores de produção local, algumas cultivadas pelas próprias, entre as quais se destacam estrelícias, antúrios, próteas, orquídeas, mas também rosas, nerines, gerberas ou margaridas, tornando as suas bancas ponto de paragem obrigatória para quem entra no recinto, um dos mais emblemáticos da cidade do Funchal.
"Uma flor é sempre uma mensagem que se transmite", disse Ilda Silveira, sublinhando que nenhuma crise apaga a sua beleza.