Esperança
Uma disposição do espírito que induz a esperar uma coisa que se há-de realizar ou suceder, expectativa, confiança!
Estas são algumas das definições encontradas em qualquer dicionário de português para esta palavra tão enigmática quanto bela.
“A Esperança é a última a morrer” diz-se dela, mesmo que no fundo não acreditemos naquilo que estamos a pensar, porque mesmo não acreditando, cremos, bem para além do fundo do fundo, que aquilo porque ansiamos virá, quando todas as portas vão cerrando as oportunidades, ela está lá, dando um fôlego ao ânimo quando o ânimo parece ter perdido o fôlego!
Atravessamos uma época difícil, com uma previsível segunda vaga de Covid 19 a espreitar à esquina do tempo
(parafraseando Alvin Toffler que na sua “Terceira Vaga” descrevia a evolução da sociedade desde a época agrícola até à era da informação, depois de passadas as fases industrial e post industrial, na qual a mente, a informação, o conhecimento e a alta tecnologia são essenciais ao sucesso de qualquer sociedade que se quer desenvolvida).
A esquina do tempo é logo ali, com as actualizações do conhecimento a serem feitas ao segundo, com a Inteligência Artificial e todas as outras ferramentas informáticas que se vão descobrindo e desenvolvendo a uma velocidade estonteante.
A esquina é logo ali.
Mas ainda não é a segunda vaga a chegar! São resquícios da primeira que ainda por aqui andam, um pouco à custa da incúria de cada um!
Temos todos a esperança que uma vacina venha trazer normalidade ao novo normal que nos foi imposto por um vírus que ninguém viu chegar!
A esperança tem de ser mantida viva e cabe aos decisores políticos mantê-la bem acordada. Deixá-la adormecer com as palavrinhas mansas que vão enganando todos os bem-intencionados que não têm mais nada onde se agarrar é um acto criminoso a merecer punição exemplar. Neste mundo confinado e em desespero económico, ter esperança é a única esperança de uma normalidade que tarda em chegar
(nunca mais chega a vacina e há quem advirta que vacina para todos só lá para 2024!).
Esperança que a vida corra bem!
Esperança que corra bem o exame!
Esperança de conseguir o trabalho!
Esperança…
Há milhares de motivos para que a esperança esteja presente em todos os momentos da vida, mas é na saúde quando falta que mais a sentimos.
Ou a sua falta, quando a doença consome todo o espaço existente para que a esperança floresça.
O ser humano agarra-se à vida, com unhas e dentes como soe dizer-se, mesmo até ao fim, suportando tantas vezes estados complexos de dor e sofrimento, deixando exemplos de heroicidade e resistência que elevam os patamares de esperança a quem porventura já tinha de alguma forma desistido.
A resistência humana ao sofrimento provocado pela doença é um dos alicerces da enorme vontade de vida que a esperança traz consigo.
Um vazio de esperança é experimentado quando parece que o fim já tem o fim à vista, quando a depressão não deixa mais ver que o que morre por último é a esperança.
Num estado depressivo a esperança é a primeira a morrer, deixando espaço a um vazio de difícil de preenchimento.
A primeira vaga da Covid 19 trouxe uma depressão económica a arrastar consigo uma vaga de depressão social e individual de consequências ainda imprevisíveis, e pouco acautelada pelos decisores políticos. A não ser devidamente acautelada, prevista e tratada, a segunda vaga trará inevitavelmente uma enorme perda de esperança social e, mais grave ainda, uma incomensurável perda de esperança individual, esta com uma imprevisibilidade ainda maior.
O que pior pode acontecer ao ser humano é perder, deixar de contar com o que em tempos de dificuldade o prende à vida: a Esperança.
Contrariando um pouco Darwin, é nossa obrigação comum, a começar por quem tem poder de decisão, alterar o rumo da lei da sobrevivência dos mais fortes, fazendo com que os mais fortes e poderosos ajudem os mais fracos, com menores recursos, económicos, mas sobretudo psíquicos, tenham viva a esperança de que afinal a vida pode ser vivida com esperança porque as soluções, mesmo que difíceis serão efectivas para todos.
Mesmo sabendo que esta realidade é utópica, esmorecer na crença de melhores dias é condenar milhões de seres humanos a uma sobrevivência de subsistência e isto é válido para qualquer vaga que por aí venha, Covid ou económica!
Com muita esperança, espero que a segunda vaga do vírus deixe espaço para podermos apreciar a terceira vaga preconizada por Toffler.
Esperança…