Coronavírus Mundo

Estudo revela impactos secundários "impressionantes" da pandemia em África

None
Foto ePA

A covid-19 está a ter "impactos secundários impressionantes" em África, conclui um estudo divulgado ontem e que revela perda significativa de rendimentos, insegurança alimentar e perturbações graves no acesso a cuidados de saúde para outras doenças.

A resposta à pandemia de covid-19 está a impedir o acesso das populações a serviços de saúde para outras doenças, a paralisar programas de tratamento de doenças como o HIV/sida ou a tuberculose e a ameaçar a escassa mão-de-obra no setor da saúde, aponta a mesma análise.

Tratamentos da malária (15%), doenças cardiovasculares (8%), diabetes (5%) cuidados pré-natais (5%), cuidados pediátricos a menores de 5 anos (5%) e vacinação (4%) foram os programas de saúde mais afetados nos seis meses que decorreram entre o início da pandemia e a data da realização dos inquéritos.

O estudo, que envolveu 24 mil participantes em 18 países africanos, incluindo Moçambique, foi realizado entre 04 e 17 de agosto, pela 'Partnership for Evidence-Based Covid-19 Response' (PERC), iniciativa que junta o África CDC, Organização Mundial de Saúde, Fórum Económico Mundial, a organização não-governamental 'Resolve to Save Lives' e a empresa de estudos de opinião Ipsos.

Cerca de metade (44%) dos inquiridos com necessidade de cuidados médicos adiaram ou faltaram a consultas e uma percentagem semelhante (47%) referiu dificuldades de acesso a medicamentos.

Sete em cada 10 inquiridos reportaram que o seu rendimento familiar na semana anterior à realização do estudo era menor em comparação com a mesma altura do ano passado (70%), e a mesma proporção reportou problemas de acesso a alimentos (72%).

Destes, apenas 14% receberam ajuda dos governos.

Para o médico em saúde pública e presidente da 'Resolve to Save Lives', Tom Frieden, "em África, estes impactos indiretos serão provavelmente muito maiores do que os impactos diretos do vírus que causa a covid-19".

"Por isso, é preciso uma ação urgente para proteger os profissionais e os sistemas de saúde", acrescentou Frieden, durante a apresentação pública do estudo.

Os resultados do inquérito da PERC revelam, por outro lado, forte apoio às medidas de prevenção e combate à covid-19 adotadas pelos governos, com a maioria a manifestar-se favorável ao uso de máscara, lavagem das mãos e distanciamento social.

Muito menor apoio e adesão tiveram as medidas que restringem a atividade económica e limitam as reuniões públicas.

Muitos governos africanos começaram a flexibilizar as medidas desde junho, sendo que o estudo revela "tensão entre o desejo dos inquiridos de reabrir a economia e a ansiedade sobre como isso poderia afetar a sua saúde".

Numa análise à situação epidemiológica em África, os dados revelam que, no geral, os 55 Estados-membros da União Africana (UA) confirmaram menos casos 'per capita' em comparação com outras regiões do mundo.

Os casos comunicados atingiram o seu auge em finais de julho e princípios de agosto - impulsionados pela epidemia na África do Sul, aponta o estudo, indicando que desde então têm vindo a diminuir.

Contudo, ressalva, as indicações sobre a capacidade de testes indicam que muitos casos não são detetados, com países a comunicarem os dados da covid-19 de forma "pouco frequente ou inconsistente" ou a registarem falta de material ou mesmo profissionais para fazer os testes.

A taxa de letalidade para a covid-19 em África é inferior à global, sugerindo que os resultados da doença têm sido menos graves entre as populações africanas, aponta ainda o estudo.

Este é o segundo relatório regional da série "Utilização de Dados para Encontrar um Equilíbrio" na luta contra a covid-19 em África, um conjunto de estudos nos quais a PERC analisa as respostas aos inquéritos juntamente com dados sociais, económicos e epidemiológicos dos países e faz recomendações aos governos sobre a forma de melhor responder à pandemia.

"Nove meses desde o início da pandemia é claro que os efeitos da resposta serão de longo prazo para os sistemas de saúde e para a economia, mas também para as comunidades", disse Tom Frieden, sublinhando, por isso, a importância de os governos tomarem decisões baseadas em dados credíveis e transparentes.

A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 978.448 mortos e quase 32 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Fechar Menu