Caracas atribui relatório da ONU a plano intervencionista
Caracas insistiu hoje que a Venezuela respeita "todos os Direitos Humanos" e atribuiu o recente relatório de uma Missão da ONU, que acusa o Governo venezuelano de crimes contra a humanidade, a um alegado plano intervencionista e terrorista.
Esse plano, segundo o embaixador venezuelano em Genebra, Jorge Valero, é impulsionado pelos EUA e o Grupo de Lima (do qual fazem parte a Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Guiana, Haiti, Santa Lúcia e a Bolívia).
"(Os EUA) pagaram três milhões de dólares (2,58 milhões de euros) para posicionar o relatório e prejudicar as relações com outros países e a cooperação (da Venezuela) com o escritório de Michelle Bachelet (Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos). Eles esbanjam o dinheiro da ONU fazendo um trabalho fantasma", disse ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Segundo o embaixador, o relatório foi elaborado "desde o Panamá, por mercenários" que usaram ONG "que converteram os Direitos Humanos num negócio rentável".
Valero referiu-se ao périplo recente do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo pela Guiana, o Brasil e a Colômbia" e questionou "que relação tem esta visita com a chamada Missão de Verificação de Factos e a apresentação do relatório".
Caracas acusa Mike Pompeo de tentar "arranjar ações para derrubar o Governo do Presidente Nicolás Maduro, inclusive com uma invasão militar norte-americana, apoiada por governos marionetes".
Valero lamentou que o relatório tivesse sido elaborado com entrevistas telefónicas a 274 pessoas e admitiu que funcionários das forças de segurança do seu país podem estar envolvidos em violações, mas sublinhou que essas ações "têm sido punidas" pelo Ministério Público.
Segundo o embaixador, nos últimos três anos a Venezuela acusou 565 funcionários das forças de segurança por alegadas violações de Direitos Humanos, 447 dos quais continuam detidos e 127 foram condenados de maneira firme.
Para Caracas, a ONU tem duas opções: "manter a missão do Grupo de Lima com os planos intervencionistas do Governo de (Donald) Trump" ou "manter a presença na Venezuela de uma missão da Alta Comissária para os Direitos Humanos, fruto do memorando de entendimento assinado e recentemente renovado" com Michelle Bachelet.
Na passada quarta-feira os investigadores de uma missão internacional da ONU acusaram Nicolás Maduro e os seus ministros do Interior, Néstor Reveról, e da Defesa, Vladimir Padrino López. de envolvimento em graves crimes cometidos pelas forças de segurança do país.
A equipa de investigadores -- que divulgou o seu primeiro relatório, mas não se deslocou à Venezuela --, afirmou ter detetado provas de crimes contra a humanidade, e indicou possuir "bons motivos para pensar que o Presidente" e os ministros do Interior e da Defesa "ordenaram ou contribuíram para ordenar crimes concretizados", indicou em comunicado a jurista portuguesa Marta Valiñas, que dirige a equipa de investigadores.
Alguns destes crimes, "incluindo mortes arbitrárias e o uso sistemático da tortura, inserem-se no âmbito de crimes contra a humanidade", disse.
"Estes atos estão longe de ser isolados, estes crimes foram coordenados e cometidos em nome de ordens do Estado em conhecimento de causa e com o apoio direto de oficiais superiores e altos responsáveis do Governo", prossegue o relatório de 411 páginas.
As graves violações de direitos humanos denunciadas pela equipa de investigadores foram perpetradas em operações realizadas por todos os organismos de segurança estatal na Venezuela.