Sul-africanos protestam em Pretória contra estrangeiros no país
Um grupo de sul-africanos manifestou-se hoje junto das representações diplomáticas da Nigéria e do Zimbábue na capital Pretória, contra a presença de estrangeiros no país.
Os manifestantes entregaram um memorando na embaixada nigeriana, alegando que as atividades criminosas na África do Sul são perpetradas por cidadãos estrangeiros, nomeadamente "nigerianos e zimbabueanos".
Em declarações à televisão sul-africana, os organizadores da marcha de protesto acusam ainda os imigrantes africanos pelo aumento da corrupção na administração pública do Congresso Nacional Africano (ANC, a sigla em inglês), o partido no poder desde 1994, e pelo declínio económico que persiste no país.
Há mais de uma década que o Governo e a sociedade pós-'apartheid' da África do Sul se confrontam com acusações de xenofobia para com cidadãos e empresas estrangeiras.
No início deste mês, o partido de esquerda radical Economic Freedom Fighters (EFF), terceiro maior partido de oposição na África do Sul, vandalizou mais de 30 farmácias em cinco províncias do país, durante cinco dias, devido a um controverso anúncio publicitário de cosmética capilar estrangeiro.
No mês passado, a ministra das Relações Internacionais e Cooperação, Naledi Pandor, condenou a xenofobia no país após a morte de uma nigeriana, em junho, nos arredores de Joanesburgo. A governante disse que a polícia está a investigar o caso.
Mais recentemente, em agosto, um imigrante moçambicano morreu e pelo menos 18 pessoas também de nacionalidade moçambicana ficaram desalojadas pela alegada violência xenófoba num bairro do leste de Joanesburgo, disse à Lusa uma das vítimas.
O distrito de Ekhuruleni, onde se situa o bairro de Thokoza, foi também um dos focos de saques de violência xenófoba que invadiu o país em setembro do ano passado, forçando cerca de 1.500 estrangeiros africanos a abandonarem a África do Sul.
Nesse mês, mais de 11 pessoas morreram e cerca de 500 foram detidas pela polícia sul-africana durante a onda de violência xenófoba, pilhagem e destruição de vários negócios, na maioria de imigrantes estrangeiros na província de Gauteng, a mais populosa da África do Sul.
Os ataques de xenofobia, com a aparente passividade da polícia sul-africana, em setembro de 2019, afetaram ainda 12 comerciantes portugueses que estimaram à Lusa ter sofrido prejuízos superiores a pelo menos 43 milhões de rands (2,16 milhões de euros).
Em maio 2008, 62 pessoas morreram em resultado de tumultos xenófobos por todo o país com origem nos arredores de Joanesburgo e em abril de 2015, sete pessoas morreram em violentos protestos de xenofobia em Durban, capital da província do KwaZulu-Natal, litoral do país e base do Partido Livre Inkatha (IFP, na sigla em inglês), de etnia Zulu.
A perseguição e a violência contra africanos estrangeiros e asiáticos na África do Sul tornaram-se "rotineiros" e, por vezes, letais, segundo um relatório divulgado este mês pela organização não-governamental Human Rights Watch (HRW, na sigla em inglês), que denuncia a inação das autoridades sul-africanas para travar e investigar os ataques.