Filantropia, “um ímpeto de alma”
Só temos é que ter orgulho de ver o nosso País produzir projectos destes
Foi apresentada nesta terça-feira a Fundação do conhecido dono da Farfetch o português José Neves. O fundador da bem sucedida plataforma de acessórios de luxo, comprometeu-se a doar dois terços da sua fortuna ( estimada em mais de mil milhões de euros ) e devido a esse compromisso, entrou na Giving Pledge, uma iniciativa filantrópica lançada pelo criador da Microsoft, Bill Gates, pela mulher deste, Melinda Gates, e pelo multimilionário Warren Buffett. O empresário das novas tecnologias torna-se assim o primeiro português a integrar este movimento lançado em 2010 e que se esforça por convencer os mais ricos do planeta a contribuírem financeiramente para a resolução de alguns dos problemas mais prementes do globo.
Não é tanto pela simples ideia de criar uma Fundação ou de ser um nome conhecido que me chama a atenção, mas sim pela forma profunda e objectiva como é caracterizada a mesma. O impulso de dar de volta o muito que recebeu e que o impele a ajudar os outros criando um circulo de conhecimento, chegou-he através de “um ímpeto de alma”. É importante, quando alguém se entrega a um desafio tão impactante mas ao mesmo tempo tão exigente, que carregue na sua essência as razões certas. E existem já várias Fundações muito meritórias em Portugal, das quais destaco a Gulbenkian na área das artes e cultura, ciência e educação e a Champalimoud nas áreas da saúde, da investigação e do conhecimento para o bem-estar. O facto de José Neves ter 46 anos e se propôr a uma dedicação tão exigente e séria às causas filantrópicas não deixa ainda assim de ser um marco que antevejo histórico para um País feito de muita solidariedade e de pessoas anónimas que todos os dias se entregam de uma forma mágica a inúmeras causas que contribuem para uma vida melhor a tantos que necessitam de apoio.
Toca, neste caso especifico, em pilares estratégicos que me parecem fundamentais para o nosso amanhã e que significarão um passo importante rumo à evolução da nossa sociedade. Uma Educação do Futuro, que pretende transformar Portugal numa Sociedade do Conhecimento, assente na democratização da informação e na criação de iguais oportunidades para todos, quer no domínio da empregabilidade como na formação de novas valências, mesmo para quem não se acha assim tão novo. Uma consistente aposta nas bolsas que apoiarão 1500 portugueses independentemente da sua condição económica, idade ou situação laboral mas também o assumir da Saúde Mental como um dos maiores desafios deste século. Investigação e informação que ajudem a fornecer ferramentas para uma maior preocupação connosco que se traduza num acréscimo de bem estar. No perceber os fatores que podem fazer a diferença, identificá-los e colocar os mesmos ao dispor de todos nós.
Só temos é que ter orgulho de ver o nosso País produzir projectos destes. É bom que não nos faça confusão vermos alguém enriquecer escolhendo o caminho correto e que a inveja, tão enraizada, não nos tolde a capacidade de reconhecer os bons exemplos e as boas práticas. Que nos sirva de motivação. Teremos todos ( cada um à sua maneira ), que caminhar invariavelmente por aí se queremos ser felizes. De uma forma sustentada e prática. Partilhar, incluir, distribuir, apoiar, crescer em conjunto. Ter a humildade de aprender constantemente. De vermos que não faz tanto sentido estarmos bem se à nossa volta os outros estiverem a passar dificuldades. Que a generosidade pega-se e que nos preenche de uma forma quase inigualável. Claro que é preciso ter condições para ajudar os outros, mas muitas vezes nem é preciso assim tanto. E breve chegará ( novamente ) esse caminho em que só fará sentido caminhar se for em conjunto e em que só estaremos bem se todos estiverem. Se não o conseguirmos para já que pelo menos deixemos as sementes. Se cada um deixar as suas à medida das suas possibilidades já estará a contribuir para um Mundo melhor. E não é só com dinheiro que se regam, mas sim com atenção, respeito, carinho, compreensão, altruísmo, solidariedade e uma entrega genuína. No fim do dia por muito que exija um esforço suplementar, vão ver que vale a pena. Só é utopia até ao dia em que se torna realidade…