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Indígenas exigem a líderes mundiais proteção concreta para a Amazónia

O coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazónica diz que a pandemia de covid-19 é um sintoma de que o planeta está doente

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Os líderes indígenas da Amazónia estão cansados de ouvir discursos e promessas e exigem agora aos líderes mundiais, reunidos na Assembleia Geral das Nações Unidas, ações concretas na bacia amazónica, atingida pela pandemia, incêndios, violência e seca.

"Esta pandemia é um sintoma de que o planeta está doente. Não queremos mais discursos, estamos diante de uma Amazónia num ponto sem volta", disse hoje o coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazónica (Coica), José Gregorio Díaz, numa conferência de imprensa virtual.

"Esta situação é responsabilidade de todos, mas, principalmente, de vocês que estão reunidos em Nova Iorque", acrescentou, referindo-se aos Presidentes e líderes mundiais que participam na celebração dos 75 anos da criação das Nações Unidas.

Díaz pediu aos chefes de Estado que sejam "honestos pela primeira vez".

"Precisamos reviver o Acordo de Paris (que visa dar uma resposta global às alterações climáticas) e travar os acordos de comércio extrativista, como o da União Europeia e do Mercosul (bloco económico composto pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai)", acrescentou o coordenador, ao pedir aos grandes bancos para "pararem de dar dinheiro para destruir a Amazónia".

"Saibam que hoje, tal como ontem, o nosso presente e futuro viram cinzas devido aos incêndios na Amazónia, contaminados com minerais e mercúrio, manchados com o sangue dos nossos irmãos pela luta em defesa do nosso território", declarou Díaz.

O coordenador da COICA pediu numa carta aberta, dirigida aos líderes mundiais, que "pelo menos se comprometam a respeitar e incorporar as práticas indígenas "de uso sustentável dos recursos naturais".

"Se eles nos ignorarem novamente e continuarem com os seus discursos de mentiras, não haverá forma de recuperar a economia em lugar nenhum", avisou José Gregorio Díaz.

A líder da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sonia Guajajara, também participou na conferência de imprensa, tendo denunciado que o Presidente, Jair Bolsonaro, "mente ao dizer que os povos indígenas são responsáveis" pela destruição da Amazónia.

"O Brasil tornou-se num dos lugares mais perigosos do mundo, o mundo inteiro ficou horrorizado com os incêndios, que puderam ser vistos do espaço", disse a responsável da APIB, organização que coordena a luta dos povos originários pelos seus direitos.

A brasileira destacou que "por de trás de cada incêndio está a ganância corporativa de empresas como do agronegócio e da mineração, assim como os maiores bancos e corporações do mundo".

Guajajara também se referiu à pandemia de covid-19, que já matou mais de 800 indígenas no Brasil, país mais afetado pela doença na América do Sul, e onde mais de 30 mil índios foram infetados pelo vírus, segundo dados da APIB.

"Os nossos líderes mais importantes estão a morrer precocemente. Aldeias inteiras em confinamento voluntário correm o risco de desaparecer", alertou a coordenadora da APIB.

Por sua vez, o diretor de campanhas do movimento cívico Avaaz, Oscar Soria, recordou que o "Brasil e o Peru são os casos mais críticos devido à covid-19" na bacia amazónica, mas que "também existem problemas preexistentes, como a posse da terra, conflitos e violência".

Soria chamou ainda a atenção que "a iminência de uma seca dificultará a resistência dos povos indígenas até março" do próximo ano.

Organizações indígenas, civis e religiosas que apoiam as reivindicações da Amazónia estão reunidas esta semana, de forma virtual, na cimeira "O grito da selva", para alertar o mundo sobre as consequências da pandemia e dos incêndios na segurança climática e na alimentação global.

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