Acreditam em “almoços grátis”?
Por certo já devem ter ouvido a frase: “não há almoços grátis”, mas talvez desconheçam o significado atribuído pelos economistas a esta frase tão popular.
Para os economistas significa que se a utilização dos recursos e o consumo estiverem a ser eficientes, a utilização dos recursos para determinado fim implica que deixam de poder ser utilizados para outros fins e, por isso, existe sempre um custo que é o valor que atribuímos ao que deixa de poder ser feito. Daí a imagem dos almoços grátis em que serão grátis para alguns, mas implicam custos para outros que os financiam.
Numa altura em que tanto se fala dos milhões que Portugal vai receber a título gratuito ou a fundo perdido para ajudar à recuperação da Economia neste período de pandemia devemos pensar que esses milhões não são “almoços grátis”, ou seja, toda a aplicação que for feita desses fundos deve ter em consideração todas as aplicações alternativas que se poderiam ter sido feitas e ter a certeza que as consequências futuras da opção escolhida são superiores às das opções preteridas, não só no curto prazo (ou no ciclo eleitoral) mas a longo prazo.
Claro que temos que continuar a garantir que todos conseguem ter acesso aos bens necessários para terem uma vida digna, por isso esta será uma das prioridades de curto prazo, mas ao mesmo tempo temos que encontrar modo que no longo prazo estas pessoas não deixem de ter por si modo de garantir a sua sobrevivência em tempos de crise. Isto significa que no curto prazo temos não só que “dar o peixe” para que possam comer, mas “ensiná-las a pescar” para que no futuro obtenham os rendimentos que necessitam para viver.
O mundo mudou e, por isso, temos de ser capazes de criar empregos que garantam que os trabalhadores conseguem ter vencimentos que lhes permitam viver e conseguir amealhar para as alturas de crise como as que atualmente atravessamos. Não é com empregos mal remunerados que vamos enfrentar o futuro com tantos graus de incerteza, pois as pessoas precisam de ter poupanças para enfrentarem o imprevisto.
Se gastarmos os fundos que vão chegar como se houvesse “almoços grátis” é quase certo que na próxima crise ainda mais portugueses não terão o suficiente para pagarem o pequeno-almoço quanto mais as refeições principais do dia.