Perante a pandemia de coronavírus, qual é a importância da vacina da gripe?
Presentemente, com a ameaça de uma segunda vaga de Covid-19, a imunização contra a gripe é, do meu ponto de vista, fundamental
As vacinas existentes foram criadas com um propósito de redução do número de óbitos provocados por doenças infetocontagiosas. A primeira inoculação que há descrição diz respeito à administração de pedaços de pele de doentes a pessoas saudáveis. Nestas observou-se o desenvolvimento de doença de uma forma mais branda.
Este método arcaico, foi o percussor de futuras pesquisas científicas, como a realizada pelo médico inglês Edward Jenner (1749-1823) com a varíola, até chegarmos à presente realidade.
A administração de vacinas pressupõe que quando um indivíduo é infectado pela primeira vez por uma determinada espécie de vírus, o sistema imunológico cria anticorpos para combatê-lo. Contudo a velocidade de reacção pode não ser adequada ou, por vezes, exagerada levando ao desenvolvimento da patologia ou a uma descompensação inflamatória sistémica.
Com a vacinação, garantimos uma entrada inicial controlada do respectivo vírus, induzindo uma resposta imunológica com memória. Assim, se verificarmos uma nova entrada do vírus, o sistema imunológico atua produzindo defesas em tempo adequado para que não haja manifestação de doença, pelo menos de uma forma grave. Este processo é designado por imunidade.
Presentemente, com a ameaça de uma segunda vaga de Covid-19, a imunização contra a gripe é, do meu ponto de vista, fundamental. Esta situação deve-se não só ao reforço imunitário > 80% para a gripe, como também a uma diminuição de internamentos por pneumonias associadas ao vírus da gripe. Esta diminuição poderá ser superior a 50%.
Quais são as reais vantagens? Por um lado a vacinação contra a gripe, ajuda no diagnóstico diferencial entre coronavírus e influenza vírus (gripe). Esta afirmação tem por base o fato de que epidemiologicamente as pessoas vacinadas tem manifestações mais frustres da doença. Por outro
lado, a sua administração numa população mais frágil, leva um reforço imunitário que, em teoria, irá diminuir a possibilidade de sobreinfecção (influenza e coronavírus). Por outro lado, o vírus da gripe tem uma enorme dispersão e, desta forma, com uma maior taxa de vacinação, esperamos diminuir a afluência desta patologia a instituições de saúde, reservando maior espaço e tempo para pandemia covid-19.
Neste mês de setembro inicia-se o outono. Esta é a época preferencial para preparar o organismo e reforçar a sua imunidade. Não nos devemos esquecer que a imunização contra o vírus da gripe decorre durante as 4 semanas após a inoculação. Assim sendo, como o pico de incidência da gripe ocorre no inverno, todas as pessoas vacinadas terão tido tempo suficiente para desenvolver imunidade.
O vírus da gripe sofre mutações frequentes. Assim, mesmo que tenha sido vacinado no ano anterior, deverá tornar a vacinar-se este ano pois a vacina tem em conta as estirpes de vírus influenza que circulam no inverno do hemisfério norte e do hemisfério sul com base em amostras de doentes de centros existentes no mundo inteiro.
Finalmente um apelo para que haja uma maior adesão a vacinação, não apenas pela população de risco, mas por todos.