Análise

Tiros no pé

Anunciam-se apoios e nomeia-se ao mesmo tempo. ‘O Rei vai nu’

Isto da política e dos negócios públicos ainda nos conseguem surpreender. E sim, antes que se pense o contrário, sou pela democracia assente em partidos que respeitem os valores da vida e as liberdades individuais. Mas o que constatamos e voltamos a constatar é que os agentes políticos se servem do poder para proveito próprio, em proveito dos seus, para se segurarem e eternizarem nos cargos. E vale quase tudo. O apoio recente do primeiro-ministro à recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica só consolida perante os eleitores a imagem e a certeza de que a maioria dos políticos age não em função dos interesses da população mas de alianças oportunistas, fomentando relações perigosas, com pessoas pouco recomendáveis e a contas com a Justiça. A hipocrisia do chefe do governo foi ao ponto de reagir para não dizer nada. A figura do primeiro-ministro não fica à porta para dar lugar à do benfiquista António Costa. Ponto. Este exemplo é terrível para a democracia, uma ofensa para os contribuintes cumpridores e para todos os que fazem da ética e da justiça o centro das suas vidas. Como péssimo é para a autonomia da Madeira que o Governo Regional persista no erro crónico de colocar comissários políticos nos lugares de chefia da administração. Não aprendeu com os erros do passado, que em nada credibilizam a sua imagem nem ajudam a catapultar a actividade política para um patamar digno e respeitável, onde deveria sempre estar, em respeito pelo voto que foi conferido pelo povo, gente de mérito. Nesta autonomia de 44 anos continua a privilegiar-se o amigo e companheiro ao profissional qualificado, independente e com opinião própria. A consulta regular do Jornal Oficial e dos currículos das centenas de nomeados que abriga confirmam que a ligação partidária continua a ser o factor determinante no recrutamento, em nome da aliança política que nos governa e de uma promiscuidade sem fim. Depois os resultados vêm ao de cima, com sectores inteiros envolvidos em polémicas intestinas e episódios lamentáveis que colocam a nu a incapacidade de quem os dirige, para além dos muitos arranjinhos e ajustes de contas, envolvendo até pessoas com ligações familiares entre si. Tudo isto corre em simultâneo com uma crise pandémica que está a pôr de rastos o motor da nossa economia e a empobrecer milhares, com a habitual apatia dos partidos da oposição. Anunciam-se apoios e nomeia-se ao mesmo tempo. ‘O Rei vai nu’ e enquanto não se subverter este sistema que distorce o conceito base da democracia, não chegaremos a bom porto.

P.S.: Tem razão, uma vez mais, o Governo Regional e o PSD-M. É inadmissível que o Governo da República não tenha dado ainda o aval ao empréstimo que autorizou a Região a contrair. O Estado português está a tratar a Madeira como Bruxelas tratou Portugal durante anos a fio. Com total insensibilidade.

P.S. 1: A pandemia não dá tréguas e o aumento do número de infectados no continente é um sério alerta que nos deve tocar a todos. Não podemos relaxar no combate ao vírus. Sejamos previdentes e responsáveis cumprindo com as regras sanitárias. A Região não pode voltar a fechar-se.

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