O Pintor
Conheci o Douglas na rua a pintar alguns trabalhos, ele escolhia sempre a zona da Sé e a Avenida Sá Carneiro. Eram locais de preferência e só pintava de vez em quando, pois tinha o seu trabalho diário e que não era pintar.
Para arranjar algum dinheiro estava empregado num supermercado do caniço e só pintava em suas horas vagas, as tintas e o restante material eram caros, pois o Douglas investia tudo na sua arte.
Ficava enternecido ao vê-lo pintar, pintou diversas personalidades em auto-retrato e ficou tudo tão perfeito. Olhando a sua idade já se sabia que estávamos ao pé de um grande talento, pois a perfeição em que pintava ficava tudo tão real, do seu pincel saiam as partículas de tinta que ao contacto com a tela transformavam quase por magia toda aquela beleza e que em nós causava aquele belo impacto visual, criatividade, beleza e talento era o que não faltava ali.
Como a minha intuição nunca me enganou, eu sabia que ali mesmo ao meu pé estava um grande pintor, um grande talento e fez-me lembrar o Miguel Ângelo e o Leonardo da Vinci , em que quando eram jovens também pintavam na rua, e podem acreditar que não é fácil pois tinha sempre de interromper o trabalho quando era abordado por pessoas interessadas pela sua arte, ou por simples curiosos, contudo um bom pintor sabe parar e retomar o seu trabalho.
Eu assisti ao trabalho que o Douglas estava a fazer por encomenda, era nada mais nada menos que a família do Ronaldo. Estava a pintar as três gerações: o pai do Ronaldo, o Dinis, o Ronaldo e o seu filho, e é sem dúvida uma pintura magnifica.
Também visitei a exposição que o Douglas apresentou na Galeria do Turismo no Funchal, foi lindo de se ver. Tanta arte e tanto talento ali apresentada. Esta exposição teve muita aderência por madeirenses e estrangeiros, em maior número, em que por vezes formavam filas. E foi graças a esta exposição que a sua arte foi levada para todo o mundo, divulgada em fotos e outros meios de comunicação, em que daquela quantidade de telas expostas todas as críticas foram favoráveis ao pintor, eu diria um sucesso…
Numa conversa mais longa, o Douglas contou-me todo o percurso que remeteu na sua vida, e podem crer que para chegar ao patamar da vida que ele está hoje em dia, custou muito, mas sem esforço nada se consegue na vida.
Também contou-me que tem dias que não se sente inspirado e aí pára o seu trabalho, e eu acredito que assim é com todos os artistas, quer sejam pintores quer sejam outros profissionais, que possuem no seu interior um certo poder, em que só realizam os seus trabalhos quando estão mesmo inspirados, e este poder nasce com eles e que pela vida fora os ajuda a atingir feitos, e que por vezes vão escrevendo a sua historia, pois também se escreve sem escrever, ficando o livro com somente as páginas da vida e aí vão a caminho alguns de se tornarem imortais através das obras que ficam.
O homem nasce, mas a sua história fica….
O Douglas nunca mais foi visto a pintar na rua como sempre o fazia, e o motivo da sua ausência é que ele está numa Academia de Belas Artes em Madrid, aprendendo e aperfeiçoando o seu talento , mas eu sei que mesmo lá continua a pintar e a vender alguns quadros para poder fazer face ás despesas do seu dia a dia.
Pelo que consta o Douglas foi embora jovem e é uma referência, pois os seus quadros estão a atingir valores altíssimos e quem os tem não quer vender, pois quem os compra fez um bom investimento e de alta rentabilidade.
Mais palavras para quê! O tempo o dirá, vou dar um conselho: se por acaso tiverem um quadro do Douglas então guarde-o bem guardado…
Há dois dias vi e ouvi a notícia em que mostrava um quadro do Hiro que ia a leilão por 39 milhões de dólares, mais palavras para quê?....
Juvenal Silva