Respirar um novo ar
A época que vivemos tem aguçado na sociedade as suas fragilidades e os seus (eternos) desassossegos. Há que aprender um novo respirar e um novo ar, que o antigo já se foi e deixou de ser respirável.
Alguns, astutos, sempre lucram com a aflição dos outros. Presumo até que a crise é uma palavra feliz para os homens do orçamento. Outros, ficam presos na rede e dela não se livram.
Estas palavras e pensamentos partem da minha aflição enquanto trabalhadora independente que está há cinco meses a receber míseros tostões do apoio que a segurança social concede aos trabalhadores independentes que viram a sua atividade decrescer ou mesmo parar, que é o meu caso.
De mês para mês, este apoio foi sendo dado cada vez mais tarde, numa completa ausência de noção ou de sensibilidade para as vidas daqueles que, como eu, dependem dele.
Neste mês, Setembro, o apoio de Agosto será pago dia 21 ou 22. Creio que muitos passam fome, muitos não têm o que dar ao filho ou filhos, nem aos seus animais que precisam tanto quanto eles, muitos vão pagar multas pesadíssimas do pagamento das prestações de empréstimos ou serão despejados, se os senhorios não forem complacentes com a sua situação. Muitos adormecem diariamente com o soluço do desespero. E quem não tem a quem mais pedir ajuda, que é o meu caso, tem de aguentar a fome e colocar o melhor sorriso porque ninguém lá fora quer ouvir falar de dificuldades ou choros.
Escrevo estas palavras apenas para que fique palpável que do outro lado dos balcões online existem vidas. Nao é uma máquina à espera do pagamento, mas um ser humano fragilizado.
O mundo caminha no sentido errado e ninguém o pára.
Leitora identificada